Por Luiz Eduardo Dias
Flow é um estado mental de imersão total em uma atividade, no qual a pessoa sente alto grau de foco, envolvimento e satisfação. É um momento em que a pessoa se sente completamente absorvida no que está fazendo, a ponto de esquecer de si mesma e de seu entorno. Essa teoria é hoje amplamente aplicada em áreas como educação, esportes, artes e psicologia do desempenho. Neste artigo, vamos aprofundar um pouco mais sobre alguns aspectos que envolvem o estado de integração total (flow) e que conduz ao alto desempenho no tiro ao voo.
Introdução
O mundo do tiro esportivo é, muitas vezes, mal interpretado como uma atividade que envolve apenas habilidades e técnica. Habilidades que podem ser natas ou adquiridas e técnica que se aprende, para alguns com muita rapidez, para outros, nem tanto.
Porém, para aqueles que buscam o mais alto nível de desempenho, o tiro esportivo vai muito além do ato mecânico de puxar o gatilho. O disparo perfeito emerge da integração plena entre mente, visão e corpo, operando como um único sistema coeso. É nesse ponto de fusão que a ação se transforma em arte, e a execução técnica dá lugar a uma resposta intuitiva, precisa e profundamente enraizada.
Neste estado, a percepção visual deixa de ser apenas um sentido passivo e passa a ser um catalisador do movimento. A visão não apenas identifica a trajetória do alvo, ela desencadeia, quase automaticamente, uma série de microajustes corporais que orientam o disparo com precisão milimétrica. A consciência, por sua vez, tem um papel paradoxal: deve estar presente o suficiente para manter a atenção plena, mas ausente o bastante para não interferir com pensamentos danosos, e caso eles entrem, que sejam rapidamente substituídos por outros não danosos. A mente consciente, se dominante, introduz hesitação e tensão; o subconsciente, quando treinado, permite fluidez, precisão e velocidade.
Esse refinamento exige duas grandes disciplinas: o controle psicológico e a automação física. O atirador deve cultivar um estado mental livre de ruído interno, onde não há espaço para dúvidas, ansiedade ou rigidez. Isso é alcançado por meio de um treinamento que vai além da repetição mecânica, envolvendo visualização, respiração controlada, foco seletivo e resiliência emocional que permita a imediata substituição de um eventual pensamento danoso. Paralelamente, o corpo deve ser moldado por uma prática técnica tão apurada que cada movimento seja realizado sem esforço consciente, com a mesma naturalidade de um gesto cotidiano.
O momento do disparo ideal não é um ato forçado, mas uma consequência inevitável de uma cadeia perfeitamente sincronizada de percepções e reações. Quando mente, corpo e visão estão em sincronia, o atirador não sente que está “fazendo” o disparo. Ele apenas acontece. Essa experiência, muitas vezes descrita como fluência, estar no fluxo, estar na onda ou em estado de flow, é o ponto em que o desempenho atinge sua forma mais pura e elevada.

É essa integração que distingue os grandes atiradores daqueles que oscilam entre acertos e erros. Os melhores não dependem da sorte, nem de esforço descomunal. Eles operam em um plano onde pensamento e ação, intenção e execução, estão completamente alinhados. A perfeição, nesse nível, não é um objetivo a ser perseguido a cada tiro. É uma consequência natural de um sistema interno refinado, consciente de si e funcional em sua totalidade.
Dominar essa dimensão do tiro é, portanto, mais do que atingir alvos com precisão. É desenvolver um estado de presença absoluta, onde o ser e o fazer se tornam indistintos. Nesse nível, atirar é mais do que acertar, é expressar, com precisão e harmonia, a integração plena entre percepção, mente e corpo.
O estado flow: onde mente, visão e corpo se dissolvem e a noção de tempo se perde
Mihaly Csikszentmihalyi, um renomado psicólogo húngaro-americano, é considerado um dos principais pensadores da psicologia positiva. Sua maior contribuição à ciência foi a formulação da teoria do flow, um estado mental de imersão total em uma atividade, no qual a pessoa sente alto grau de foco, envolvimento e satisfação.
A ideia do flow surgiu a partir de suas pesquisas sobre o que torna a vida verdadeiramente gratificante. Csikszentmihalyi percebeu que, independentemente da atividade — seja arte, esporte ou trabalho —, as pessoas relatavam experiências de profunda concentração e perda da noção do tempo quando estavam engajadas em desafios que equilibravam suas habilidades e a dificuldade da tarefa.
Ele descreveu o flow como o momento em que a pessoa se sente completamente absorvida no que está fazendo, a ponto de esquecer de si mesma e de seu entorno. Essa teoria é hoje amplamente aplicada em áreas como educação, esportes, artes e psicologia do desempenho.
No contexto do tiro, o flow ocorre quando:
- O atirador está completamente presente, com foco absoluto;
- A dificuldade da tarefa está perfeitamente equilibrada com sua habilidade;
- As ações fluem sem esforço consciente — o corpo responde, a mente observa.
O tiro ao voo é particularmente propício para o flow, pois exige concentração intensa, respostas rápidas e coordenação motora refinada, que são gatilhos potenciais para esse estado mental.
Esse estado não é um acaso: ele é construído com a convergência de preparação física, clareza mental e repetição técnica. O atirador em flow não está tentando acertar. Ele está simplesmente permitindo que o acerto aconteça.
Para melhor compreensão sobre o flow é essencial abordarmos suas características, que são:
- Foco absoluto no presente
- Perda da autoconsciência
- Clareza de objetivos
- Feedback imediato (acerto ou erro no disparo)
- Sensação de controle
- Alteração na percepção do tempo
- Equilíbrio entre desafio e habilidade
- Foco absoluto no presente
No contexto da teoria do flow o foco absoluto no presente é essencial para atingir o estado de experiência ideal. Na prática do tiro ao voo, o atleta precisa estar completamente imerso no momento, com atenção plena à posição do corpo, à respiração, ao movimento do prato e à sincronização da ação. Qualquer distração, seja ela interna (como ansiedade ou pensamento sobre o resultado) ou externa (sons ou movimentos ao redor), pode quebrar o estado de flow e comprometer a performance.
Quando o atirador entra nesse fluxo, o tempo parece desacelerar, a mente se torna silenciosa e cada disparo surge com naturalidade e precisão. O presente, nesse estado, é tudo o que existe e é exatamente aí que mora o alto desempenho.
Para estar plenamente presente no momento é necessário que o atleta pratique e use determinados gatilhos que possibilitem manter o estado de concentração ideal. Existem diferentes técnicas para a atenção plena (Mindfulness), tais como respiração consciente, meditação e visualização mental, que podem treinar o cérebro a se manter ancorado no presente. A rotina mental antes de cada disparo, incorporando mantras positivos, sinaliza ao cérebro que é hora de entrar no modo de execução, afastando pensamento negativos e/ou despertando o inconsciente para o ambiente externo.
- Perda da autoconsciência
A função da consciência é representar a informação sobre o que está acontecendo dentro e fora do organismo de maneira que possa ser avaliada pelo corpo para que entre em ação. Nesse sentido, funciona como uma central de processamento para sensações, percepções, sentimentos e ideias, estabelecendo prioridades entre todas as diversas informações.
Em seu livro Flow – A Psicologia do Alto Desempenho e da Felicidade – Mihaly Csikszentmihalyi diz: uma das principais forças a afetar adversamente a consciência é a desordem psíquica. Ou seja, informação em conflito com as intenções existentes ou que nos distraia e nos impeça de concretizá-las. Damos a essa condição muitos nomes, dependendo de como a sentimos: dor, medo, raiva, ansiedade. Todas essas variedades de desordem forçam a atenção a se desviar para objetos indesejáveis, impedindo nossa liberdade de usá-los segundo nossa preferência. Ou seja, os perigosos e nefastos pensamentos que circulam a mente do atleta nos momentos que antecedem o disparo é uma desordem psíquica que pode, e deve, ser evitada por meio do estado flow.
Na teoria do flow, a perda de autoconsciência é uma das características centrais do estado de imersão profunda em uma atividade. No tiro ao prato, essa perda de autoconsciência se manifesta quando o atirador deixa de pensar sobre si mesmo — sobre sua imagem, suas inseguranças ou a expectativa de outros — e se funde completamente com o ato de atirar. Nesse estado, não há espaço para o “eu” observador; existe apenas a ação e a resposta ao estímulo do prato lançado. O atirador não está mais preocupado em parecer competente ou em julgar seu próprio desempenho. Ele é a própria performance, reagindo com precisão e fluidez, como se o corpo soubesse exatamente o que fazer sem a interferência da mente analítica.
Essa ausência de autojulgamento libera o potencial máximo de desempenho, permitindo que a habilidade treinada se manifeste com naturalidade. É nesse desaparecimento momentâneo do ego que o atleta encontra um dos aspectos mais poderosos e libertadores do flow.
- Clareza de objetivos
A clareza de objetivos é um elemento fundamental para que o atleta entre em estado de imersão total na atividade. No tiro ao prato, essa clareza se traduz em metas simples, específicas e imediatamente compreensíveis: acertar o prato em movimento no momento certo, com a postura correta e o foco ajustado. Não há ambiguidade sobre o que precisa ser feito. O objetivo está claramente diante do atirador a cada disparo. Essa definição precisa do que se busca fazer permite que a mente se concentre totalmente na tarefa, reduzindo distrações e aumentando a eficiência cognitiva. Além disso, a clareza de objetivos facilita a autorregulação durante a prática, ajudando o atirador a identificar rapidamente o que está funcionando e o que precisa ser ajustado.
Quando o objetivo está nitidamente presente, cada ação tem propósito, e isso contribui diretamente para a entrada e manutenção no estado de fluência, onde performance e prazer se entrelaçam com naturalidade.
- Feedback imediato (acerto ou erro no disparo)
O feedback imediato é um dos elementos cruciais para a experiência de flow acontecer. Existe um feedback obvio que é aquele dito binário (acerto/erro).
Sendo assim, imediatamente podemos deduzir que se o prato quebrou, o processo foi um sucesso, se não quebrou, alguma etapa entre a rotina pré-disparo e o disparo não foi realizada a contento – talvez devamos considerar uma chance de 5% de isso não ser verdadeiro em decorrência de uma rajada de vento repentina que tenha alterado a trajetória do prato, ou os chumbos incidiram sob o prato em um ângulo que não resultou em sua quebra -. Portanto, o feedback se refere à capacidade do atleta de perceber instantaneamente o resultado de suas ações.
Entretanto, considero que quebrar o prato como feedback positivo é válido para atletas cuja rotina pré-disparo e o movimento de disparo estejam plenamente consolidados e solidificados. Para aqueles que não se enquadram neste perfil, eu sugiro que o feedback ocorra respondendo as seguintes questões:
- Mantive minha rotina pré-disparo corretamente?
- Esperei o prato sair para que minha visão e mente pudessem captar sua trajetória?
- Fiz o movimento de maneira suave progressiva na busca pela trajetória do prato?
- Finalizei corretamente o movimento, puxando o gatilho de maneira suave e decisiva?
Caso a resposta para estas questões seja sim, então o feedback deve ser positivo, uma vez que existe uma chance de 95% do prato ter sido quebrado. As perguntas são micro-feedbacks internos essenciais para ajustar a performance em tempo real e manter o estado de fluência. Eles funcionam como um espelho contínuo da ação, permitindo ajustes quase automáticos e mantendo o praticante completamente engajado.
Por que o feedback imediato favorece o flow?
De acordo com Csikszentmihalyi, o feedback imediato:
- Remove a incerteza: você sabe imediatamente se está no caminho certo.
- Mantém o foco: ao ter retorno constante, sua mente não divaga.
- Permite adaptação rápida: se algo está fora do ideal, você ajusta sem sair do estado de concentração.
No tiro ao prato, isso se traduz em uma experiência onde cada prato lançado é uma oportunidade única de conexão entre percepção, ação e resultado. Quando o feedback é claro e contínuo, o atirador entra em um ciclo de aprimoramento quase automático. Sendo este ciclo um dos pilares do flow.
- Sensação de controle
A sensação de controle é um elemento central da experiência ideal de desempenho. Ela não significa necessariamente controle absoluto sobre o resultado (acertar o alvo), mas sim a percepção subjetiva de que o atleta está no comando da própria ação, com domínio sobre suas habilidades e plena presença no momento, resultando em fazer de forma mais adequada possível e não apenas automaticamente.
Podemos dizer que a sensação de controle se manifesta quando o atirador sente que:
- Consegue manter a calma, mesmo sob pressão.
- Gerencia bem sua rotina pré-disparo, o tempo entre o comando de voz, a visualização do prato e o disparo.
- Executa o movimento de maneira suave, progressiva e com fluidez, sem esforço consciente exagerado.
- Lida com erros com tranquilidade, sem se desestabilizar emocionalmente. Cada disparo é único. O próximo prato é um novo evento, igualmente único que se mostra como uma nova oportunidade para que tudo ocorra corretamente.
- Confia nas próprias decisões e reações, mesmo diante da imprevisibilidade do prato.
Esse tipo de controle não é forçado, mas fluido. O atirador não está tentando controlar cada microação, ao contrário, ele está deixando que a técnica e a intuição operem livremente, sustentadas por prática, foco e autoconfiança.
Por que a sensação de controle favorece o estado de fluência?
Segundo Mihaly Csikszentmihalyi, a sensação de controle:
- Reduz a ansiedade: quando o desafio é alto, mas você sente que está à altura. A tensão dá lugar ao foco.
- Aumenta a imersão: confiar na própria capacidade libera a mente para se concentrar no momento presente.
- Fortalece o autoconhecimento: o praticante aprende a reconhecer seus limites e capacidades reais em tempo real.
No tiro ao prato, sentir-se no controle transforma cada disparo em uma dança entre estímulo e resposta, quase como se o corpo “soubesse” o que fazer, e o atirador apenas assistisse. Essa fluidez é típica do flow: você não está apenas atirando, você está sendo o tiro.
- Alteração na percepção do tempo
Outra característica interessante de quando estamos no estado flow, refere-se à percepção subjetiva do tempo. Quer seja na leitura de texto interessante ou em uma série de 25 disparos na pedana. No caso do tiro ao prato, a sensação subjetiva pode depender do estado interno do atirador, uma vez que o tempo pode desacelerar ou acelerar, independente do relógio real.
Durante um estado de flow no tiro ao prato, é comum que o atirador experimente sensações como:
- O tempo parece desacelerar quando o prato é lançado, permitindo uma leitura visual incrivelmente clara e rápida do trajeto.
- O movimento da espingarda até o prato ocorre com precisão e fluidez, quase em câmera lenta, mesmo que tudo dure menos de um segundo.
- Em outros momentos, o tempo pode parecer voar durante uma série bem-sucedida, onde a sequência de acertos ocorre com tamanha naturalidade que o atirador mal percebe a passagem dos minutos.
Essa alteração na percepção do tempo está diretamente ligada à intensidade da concentração. Quando o foco está totalmente no presente, o cérebro “desliga” a vigilância constante do tempo cronológico, fazendo com o atleta viva numa espécie de eterno agora.
De maneira objetiva, a alteração na percepção do tempo favorece a permanência no estado flow, pois: – intensifica o envolvimento com a tarefa. Tudo que importa é aquele instante, o prato, o disparo; – reduz a distração, permitindo que o atirador não fique pensando em quantos pratos faltam, nem no placar; – aumenta a sensação de presença, uma vez que o tempo psicológico se ajusta à experiência do corpo, criando uma vivência mais integrada.
Se você já sentiu que o prato parecia se mover mais devagar, ou que seu corpo reagiu antes mesmo de você “pensar”, isso é um forte indício de que você entrou em estado de flow. Essa distorção temporal é um sinal precioso de que seu nível de foco, desafio e habilidade estavam em perfeita harmonia. Particularmente já vivenciei esta sensação algumas vezes e, posso dizer, que é fantástica e muito estimulante.
- Equilíbrio entre desafio e habilidades
O desafio de quebrar 25 pratos em sequência se mostra maior ou menor em função de algumas habilidades natas ou adquiridas. Quanto menores são as habilidades, maior se mostra o desafio. Se este desafio tem importância significativa para o atirador, outros fatores, como os emocionais passam a intervir no processo.
Para que o atleta possa entrar em um processo de fluência é importante que exista um equilíbrio entre o nível do desafio e as habilidades para cumprir a tarefa.
Mihaly Csikszentmihalyi afirma que a experiência de flow surge quando o atleta se depara com um desafio significativo, mas se sente confiante em sua capacidade de enfrentá-lo. No contexto do tiro ao prato, isso significa se engajar em situações que exigem foco e tranquilidade para executar corretamente as rotinas de pré-disparo e disparo, mas de forma que ainda estejam dentro do alcance de suas competências técnicas e mentais.
A Figura 1 mostra três situações de desequilíbrio entre a intensidade do desafio e as habilidades do atleta, que resultam em desequilíbrio emocional e impedem que o estado de fluência seja alcançado:
1) Quando o atleta sente que o desafio está muito acima de sua habilidades, ele passa a sentir ansiedade devido ao eminente fracasso. Gerando um desequilíbrio emocional decorrente do desequilíbrio desafio/habilidades;
2) Quando o desafio é as habilidades são pequenas, o atleta senti um certo desânimo e apatia frente à tarefa imposta, uma vez que o fracasso é evidente;
3) Quando as habilidades são elevadas e o desafio pequeno, o atleta pode ser levado a um estado de relaxamento e descompromisso, que conduz à dificuldade de foco e concentração.
Quando o equilíbrio acontece (Figura 1) o atirador sente que está no limite de sua zona de conforto, mas sem ultrapassá-la. Ele não está relaxado de mais; nem está ansioso ou apático. Nesse ponto de equilíbrio, a atenção se intensifica, a percepção do tempo se altera, e cada disparo se transforma em uma experiência absorvente e significativa.

Figura 1. Diferentes estados emocionais decorrentes de desequilíbrio entre a intensidade do desafio e das habilidades que interferem no processo de permanência no estado de fluência. Quando existe equilíbrio, independente da intensidade, o estado de fluência pode ocorrer. Modificado de Csikszentmihalyi, Mihaly e Jackson, Susan A. 2016.
É importante ter em mente que a habilidade deve ser também entendida como confiança na capacidade de executar a tarefa. Ela se manifesta na certeza de que o atleta sabe que tem capacidade de seguir com as rotinas e que elas resultarão em sucesso. Este sentimento deve trazer confiança e tranquilidade para o atirador e, ao mesmo tempo, equilíbrio entre desafio e habilidade, para que a estado de fluência ocorra.
À medida que as habilidades evoluem, os desafios devem igualmente evoluir. Um treino ou competição na qual o atleta atingiu a fluência, pode ser entediante amanhã. Por isso, é essencial ajustar constantemente o nível de desafio, buscando aquela tênue região entre o conforto e o risco, onde o crescimento e o prazer se encontram. Esta é a chave para uma continuada evolução.
No tiro ao prato, o flow não acontece por acaso. O primeiro passo para acessá-lo de forma consciente é reconhecer e ajustar o ponto de equilíbrio entre desafio e habilidade. É nesse espaço que o atirador deixa de apenas praticar para, de fato, viver a prática.
Concluindo
Ao aprofundar o entendimento sobre os aspectos mentais, físicos e sobre o estado de flow, entendemos que o tiro de excelência não é um conjunto de técnicas isoladas, mas um sistema integrado de alto desempenho humano. Ele exige do atirador não apenas precisão mecânica, mas consciência emocional, atenção plena e domínio sobre si mesmo.
Treinar para atingir esse nível é embarcar em um processo de autoconhecimento. Porque cada disparo é, no fundo, um reflexo daquilo que o atirador carrega dentro de si: disciplina, controle, clareza e conexão.
Em um próximo artigo, vamos abordar os treinamentos que podem ser realizados para que o estado de fluência seja atingido.
O autor manifesta seu agradecimento a técnica Nadja Costa pelos comentários e sugestões na elaboração deste artigo.
Este artigo foi elaborado a partir da experiência do autor e leitura das seguintes referências:
- Csikszentmihalyi, Mihaly e Leite, Cássio de A. Flow – A Psicologia do Alto Desempenho e da Felicidade. Edição revista e atualizada. 2020.
- Csikszentmihalyi, Mihaly e Jackson, Susan A. Fluir em el Deporte. Claves para las experiências y actuaciones óptimas. 2016.
Para aprofundar mais sobre o assunto com foco sobre técnicas experimentais, leia o artigo: Durcan, O., Holland, P. & Bhattacharya, J. Uma estrutura para experimentos neurofisiológicos em estados de fluxo.
Commun Psychol 2 , 66 (2024).
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