Haddy Darwich Gomes: um jovem talentoso que sabe o que quer e busca viver seus sonhos com o pé no chão.
setembro 2, 2025
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Entrevista concedida a Luiz Eduardo Dias Imagens gentilmente cedidas por Haddy D. Gomes, de seu arquivo pessoal. Haddy Darwich Gomes é um jovem que vem se destacando como
Entrevista concedida a Luiz Eduardo Dias
Imagens gentilmente cedidas por Haddy D. Gomes, de seu arquivo pessoal.
Haddy Darwich Gomes é um jovem que vem se destacando como atleta de alto rendimento já faz alguns anos. Oriundo de uma família de origem libanesa, o tiro esportivo esteve presente em sua vida desde muito pequeno.
Nesta entrevista, Haddy, que recentemente completou 18 anos, nos conta um pouco do que foi a sua vida na Itália. Graças a um programa internacional, da qual sua escola em Curitiba fazia parte, Haddy teve a oportunidade de completar o ensino médio na Itália e, dentro do possível, conciliar os estudos com treinamentos e competições internacionais. Uma experiência de vida ímpar que certamente ficará em sua memória para sempre.
Muitas amizades foram conquistadas; treinamentos com a equipe de juniores da Itália; conversas com campeões mundiais e atletas olímpicos; participações em campeonatos importantes e conquistas significativas.
Veja um pouco da história desse jovem atleta que, antes de tudo é um ser humano exemplar, cheio de simpatia, educação e muito realista quanto ao que deseja para a sua vida. Parabéns, Haddy!
Haddy, quando você decidiu ir morar na Itália, o que pesou mais na decisão?
Basicamente eu queria fazer último ano do ensino médio fora do Brasil. Era uma ideia que eu já tinha. A escola que eu estudava em Curitiba faz parte de um programa internacional que permite este tipo de intercâmbio. Países como a Inglaterra, Escócia e Irlanda eram os destino mais prováveis na época. Entretanto, eu também queria ter a oportunidade de continuar treinando e participando de provas. Para mim era importante conciliar os estudos com o esporte.
Apesar do tiro ao voo ser muito praticado naqueles países, o número de clubes com pedanas de FO não é tão grande como na Itália, daí minha opção por esse país. Inicialmente não era um país que estava nos planos, mas foi uma decisão muito acertada, uma vez que pude continuar os estudos, aprender um novo idioma e continuar praticando o tiro ao prato.
Como foi sua vida na Itália em termos pessoais? As saudades são maiores em relação a que?
Posso dizer que a vida na Itália foi muito boa, tanto em relação aos estudos como ao tiro. Tive a oportunidade de fazer muitas amizades que facilitaram minha vida naquela país. Principalmente em relação ao tiro, as amizades foram fundamentais. Como só havia levado a minha coronha, eu dependi do aluguel de uma arma, o que me foi facilitado em decorrência das amizades conquistadas.
Outro ponto importante é o fato de não possuir carro (Haddy recentemente completou 18 anos) meu técnico e colegas de tiro sempre me apoiavam com caronas.
Como eu morava no colégio e o clube de tiro que eu treinava ficava a 10 minutos de carro e no caminho da casa do meu técnico, assim ele me buscava no colégio e após o treino me deixava no colégio. Foi ótimo.
Saudades foram muitas. Nossa família sempre foi muito unida e cresci rodeado de primos. Fazíamos tudo juntos, brincadeiras, treinos, passeios etc. Muitas saudades deles, de meus pais, tios, avós e do meu tio Adl, que é meu técnico e estava sempre comigo nos treinamentos.
Foi difícil, mas tinha que conviver com as saudades, porque eu fiz uma escolha que foi importante para minha formação acadêmica e, ao mesmo tempo, para minha carreira de atleta do tiro esportivo. Portanto, as saudades foram muitas, principalmente da família, assim como dos amigos brasileiros que fiz no tiro. Aliás, eu gostaria de ressaltar que no Brasil o tiro tem um clima de amizade, onde todos são próximos. Nas provas, a gente se diverte muito, com muita descontração. Seriedade existe dentro da pedana. Fora, o clima é muito bom. Também senti saudades deste clima. Más, fiz grandes amizades por lá, tanto com colegas do colégio como no tiro.
Como foi conciliar estudos com treinamento e competições?
Houve momentos muito difíceis de conciliar, mas, no geral, tudo deu certo. O programa internacional que eu participei é muito puxado e exigiu muita dedicação de minha parte. Além de uma grande carga de conteúdos, eu tive que fazer muitos trabalhos e projetos ao longo do período letivo.
Um ponto favorável foi a logística possibilitada pelo meu técnico, como disse anteriormente. Ele me ajudou muito.
Más, infelizmente chegou um momento em que o clube que eu treinava fechou e eu fiquei dois meses sem pegar na espingarda. Me lembro que isso aconteceu logo após eu ter competido em Barbados. Quando fui competir na Alemanha eu estava a dois meses sem treinar. Nem treino seco tive oportunidade de fazer. Por outro lado, naquele período me dediquei plenamente aos estudos. Foi muito bom! Terminei as últimas provas e trabalhos e no dia seguinte embarquei para competir na Alemanha (Haddy, juntamente com seu primo Hussein, João Pedro Andrade e Ellen Mendes, participou da ISSF World Cup Junior Rifle / Pistol / Shotgun disputada em junho passado, na cidade alemã de Suhl. Sua participação contou com o apoio da CBTE).
Você teve um técnico na Itália? Como é a relação entre atleta e técnico na Itália?
Sim, tive um técnico. A minha relação com ele foi muito boa. Houve um rápido entrosamento. Como disse anteriormente, ele me ajudou muito. Ele é da equipe técnica da seleção de juniores da Itália e tive a oportunidade de treinar várias vezes com a equipe de juniores da Itália. Isso ajudou muito o meu entrosamento com atiradores italianos, não só juniores, mas também com o seniores. No entanto, faço questão de salientar que meu técnico é o meu tio Adl.
Quais são seus planos para este ciclo olímpico em termos de treinos e competições?
Ainda não fechei totalmente o planejamento com meu tio Adl. Temos um objetivo, mas o caminho ainda não está totalmente traçado. O principal é ter o máximo de participações em provas internacionais importantes, como as etapas ISSF do campeonato mundial de juniores e campeonatos internacionais, como a Copa do Emir, Green Cup e Copa Beretta.
A grande meta é conseguir vaga para os próximos Jogos Panamericanos de Lima, no Peru.
Tecnicamente você sente que houve uma evolução a partir de sua ida para a Itália?
Sim, sinto que houve um amadurecimento de meu tiro. Veja a prova da Alemanha (ISSF World Cup Junior deste ano). Sem treinamento tive um bom rendimento na fase classificatória (116/125), ficando a dois pratos da final.
Da mesma forma, a Copa do Emir (Emir Cup, Umbria Verde Shooting Range, Itália), onde obtive um bom resultado (2º lugar) sem muito treino.
A experiência adquirida por meio dos treinamentos e competições ao lado de atletas de alto rendimento foram fundamentais para este amadurecimento.
A escolha de cursar medicina em Portugal tem relação com a disponibilidade de continuar como atleta de excelência?
Sim. A possibilidade de realizar um bom curso de medicina, manter meus treinamentos e, principalmente, ter mais facilidades para participar de provas internacionais importantes foram fundamentais para essa escolha.
Contrariamente a estar morando no Brasil, de Portugal com poucas horas de voo eu tenho acesso à Itália e outros países onde os principais campeonatos são realizados.
Outro aspecto importante refere-se ao círculo de amizades que fiz por participar mais intensamente de provas importantes. Existe muita colaboração entre os atletas a fim de facilitar os deslocamentos. Por exemplo, quando tive que viajar de Lonato para Todi (Italian Open Green Cup) fiz uma viagem de 14 horas de trem e ônibus até o centro da cidade. Chegando lá eu liguei para uma amigo do Kuwait (Masr Meqlad, que participou de duas olimpíadas) e ele foi me buscar para irmos para o clube. Na viagem de retorno eu peguei carona com Matthew Coward-Holley (medalha de bronze nas Olimpíadas de Tokyo e 2º lugar na Copa do Mundo em Lonato). Além de facilitar meu deslocamento, essas oportunidades são ótimas em termos de interação com atletas de alto rendimento.
Comparando a rotina de um atleta de excelência que vive no Brasil com outro que vive na Itália, quais aspectos você destacaria?
O atleta brasileiro tem um nível técnico muito bom, assim como o campeonato brasileiro é muito forte. Entretanto, estar na Europa traz uma vantagem muito grande em função de você poder participar de um maior número de provas ao lado de grandes atiradores. Na Itália eu tive a oportunidade de realizar treinamentos ao lado da medalhista de prata dos Jogos Olímpicos de Paris, Silvana Maria Stanco. Atirei na companhia de grandes atletas, como Giovanni Pellielo, Mauro De Felippis e Massimo Fabrizzi.
Outra diferença é o fato de que na Itália o número de atletas de alto rendimento é maior que no Brasil. No Brasil o tiro é um luxo. Trata-se de uma minoria que tem a possibilidade de treinar intensamente e participar de campeonatos e, de certa maneira, o esporte se confunde com o lazer. Quantos atletas brasileiros podem se dar ao luxo de viver exclusivamente do tiro?
Na Itália, o tiro esportivo é uma possibilidade de se estabelecer financeiramente dada a profissionalização e o suporte que recebem de financiadores.
Que conselho você daria para um jovem que está iniciando no tiro ao prato?
Persistir! Persistir em função dos altos e baixos. Poucos conseguem persistir frente às frustrações dos altos e baixos. Atletas de alto rendimento tem momentos de baixa. Veja o exemplo da Silvana Stanco. Duas semanas antes da Copa do Mundo de Lonato ela fez um 108/125 na Copa do Emir. Em Lonato fez 121/125, indo para a final onde conquistou o segundo lugar com 43/50.
Outro conselho é participar o máximo possível de competições internacionais. Por exemplo, a Emir Cup e Green Cup são provas abertas e o nível técnico é igual ao das etapas da World Cup.
A conquista do brilhante segundo lugar na Emir Cup já teve alguma repercussão na sua vida?
Sim. Acredito que aumentou minha visibilidade. As pessoa que vivem o mundo do tiro passaram a me conhecer. Recebi inúmeros parabéns de atletas e dirigentes. Em especial um elogio de um coronheiro italiano me marcou por sua naturalidade ao comentar sobre minhas qualidades técnicas. Assim como o que recebi de Matthew Coward-Holley.
Pessoalmente esta conquista também foi importante, pois me trouxe mais confiança quanto ao meu tiro. Acho que tem a haver com a questão de maturidade, conforme comentei anteriormente.
Mas reitero, o importante é participar e vivenciar as provas internacionais. Ajudam muito no crescimento pessoal.