Por Luiz Eduardo Dias

O que é preciso para se tornar um bom atirador esportivo? Todos nós, atiradores esportivos, sabemos que a prática do tiro esportivo, independente da modalidade, requer compromisso e dedicação para que bons resultados sejam alcançados com constância. A dedicação deve ser equilibrada em três pilares fundamentais do tiro esportivo: técnica, preparo mental e condicionamento físico. Notem que utilizei o termo “equilibrada” propositalmente para salientar que a evolução técnica, demanda crescimento no controle mental e para suportar a demanda por controle mental é necessário preparo físico.

O tiro esportivo é um esporte longevo e sua prática traz inúmeros benefícios a saúde, desde que praticado de maneira equilibrada e compatível com os objetivos pessoais de cada atleta. Criar expectativas por resultados não compatíveis com seu conhecimento e habilidades técnicas pode gerar um nível de frustração muito grande e afetar sua autoestima. Essa clareza é muito importante para manter a saúde mental.

– Pilar Técnico: A Base de Todo Atirador

A técnica é o alicerce sobre o qual todo desempenho de qualidade é construído. Ela envolve desde a postura correta (posição de pernas e pés) e empunhadura firme, até a coordenação olho-braço-mão, controle da respiração e sincronização com o alvo.
Para aperfeiçoar a técnica, o treino sistemático é indispensável. Isso inclui não apenas sessões de disparo, mas também exercícios de repetição a seco, análises em vídeo e a correção contínua de erros.

Um bom atirador busca aprimorar cada movimento, tornando-o automático e preciso. Para isso, o treinamento é fundamental a fim de que os gestos necessários sejam fixados por uma memória muscular, tornando-os mecanicamente leves e perfeitos. Os sistemas eletrônicos disponíveis para treinamento a seco de maneira virtual ou não, são de grande valia para o aprimoramento técnico.

A grande maioria dos atiradores esportivos iniciam no esporte de uma maneira lúdica, com um misto de curiosidade e desejo de constatar suas habilidades. Sim, o tiro esportivo requer habilidades. Para alguns ela pode ser nata, para outros deve ser desenvolvida. Para ambas as situações, quando o desejo é se tornar um bom atirador esportivo, o apoio técnico é fundamental. Felizmente no Brasil existem inúmeros instrutores que, por meio de clínicas, ensinam os conceitos e técnicas básicas das diferentes modalidades do esporte. À medida que os fundamentos da modalidade são adquiridos e fixados pelo atleta, novos desafios, no âmbito mental e físico passam a ser igualmente fundamentais e precisam ser aprimorados com novas orientações técnicas.

–  Pilar Mental: O Controle sobre a Pressão

No tiro esportivo, o controle mental é tão importante quanto a habilidade técnica. Manter a calma sob pressão, lidar com a ansiedade em competições e permanecer focado durante toda a prova são competências que diferenciam os grandes atletas.
Técnicas de respiração, visualização positiva e treinamento de foco são ferramentas essenciais. O objetivo é chegar ao ponto em que a mente esteja totalmente presente no momento, filtrando distrações e mantendo a confiança mesmo diante de resultados adversos.

O pilar mental é tão importante no tiro esportivo ao ponto de vários atletas e técnicos afirmarem que, uma vez o atleta tenha consolidado a técnica por meio da memória muscular e visual, o controle emocional, o foco, a determinação e a autoconfiança passam a representar 90% da possibilidade de sucesso.

Dentro desse pilar, um conceito ganha destaque: o estado de flow. Flow é uma condição mental na qual o atirador se encontra completamente imerso na atividade, com concentração absoluta e sensação de controle total sobre suas ações. Nesse estado, a percepção do tempo pode se alterar — minutos parecem segundos — e a execução dos disparos ocorre de forma quase automática, fruto de um alinhamento perfeito entre desafio e habilidade.

O flow é essencial para o alto rendimento porque elimina o excesso de autoconsciência e minimiza interferências mentais. O atleta deixa de “pensar demais” e passa a “sentir” o disparo, mantendo uma sequência de ações fluidas e consistentes. Para atingi-lo, é necessário um nível elevado de preparo técnico e físico, aliado a estratégias mentais que ajudem a focar no presente e no processo, não apenas no resultado.

– Pilar Físico: A Máquina que Sustenta o Desempenho

O corpo é a plataforma que dá suporte à arma e à técnica do atirador. Uma boa preparação física contribui para maior estabilidade, resistência e rapidez de reação.
Fortalecimento muscular, especialmente de braços, ombros, costas e core, ajuda a manter a postura e reduzir a fadiga. Exercícios cardiovasculares melhoram a resistência durante provas longas, enquanto treinos de flexibilidade aumentam a amplitude de movimento e reduzem o risco de lesões.

Da mesma forma, exercícios com peso são fundamentais para o ganho de força e massa muscular, ambos importantes para manter a arma estável, no caso das modalidades de tiro de precisão ou promoverem o movimento suave e coordenado necessário para as modalidades de tiro ao voo.

Se pensarmos em provas da modalidade de Percurso de Caça, por exemplo, os atiradores se deslocam entre os diferentes postos de tiro em provas que podem durar várias horas. O desgaste físico pode ser intensificado em decorrência de ansiedade e tensão, que normalmente ocorrem durante as provas de tiro. Um Atleta de alto rendimento de tiro ao voo, quando em fase de intensificação de treinos técnicos, costuma realizar de 200 a 300 disparos por dia. Considerando que uma espingarda pesa de 3,3 a 3,8 kg, é natural que exista uma demanda elevada de energia, capacidade muscular e esforço mental para os treinamentos e competições.

– A Harmonia dos Três Pilares

O sucesso no tiro esportivo não é resultado de um único aspecto isolado. É a combinação equilibrada de técnica refinada, força mental e condicionamento físico que permite ao atleta alcançar altos níveis de desempenho. Negligenciar qualquer um desses pilares compromete o conjunto e limita o potencial de evolução.

O atleta deve buscar uma condição de treinos que beneficie cada um dos pilares, de maneira que não exista um desequilíbrio entre eles. Manter a concentração e a técnica exige esforço físico. Se o atirador não está bem fisicamente, certamente não poderá manter a técnica e a concentração por muito tempo.

Conclusão

Tornar-se um bom atirador esportivo é um processo contínuo. É preciso estar disposto a investir tempo e recursos, com disciplina e paixão. Cada treino, cada competição e cada desafio a ser enfrentado fazem parte de uma jornada que exige não apenas habilidade, mas também resiliência e determinação.

No tiro esportivo, notadamente nas modalidades de tiro ao voo, é muito difícil manter alto rendimento por longos períodos pois a demanda pelo equilíbrio nos três pilares é elevada. Existe o que chamamos de gangorra no rendimento, ou seja, o atleta intercala períodos de excepcionais rendimentos com períodos de resultados não satisfatórios. Alcançar um novo período de excelência de resultados exige elevada resiliência por parte do atleta. Para conseguir essa resiliência se faz necessário o equilíbrio técnico, mental e físico.

Somente com o equilíbrio entre os pilares, independente do que se busca com a prática do esporte, é que se consegue o bem-estar e o prazer da atividade. No final, o verdadeiro segredo é simples: a excelência nasce da dedicação constante aos três pilares que sustentam o tiro esportivo.

Nota: os pilares do tiro esportivo citados neste artigo tem um foco geral, pois sem a técnica, o controle mental e o condicionamento físico é difícil alcançar o sucesso no tiro esportivo de maneira geral. O leitor não deve confundir os pilares com os chamados fundamentos básicos do tiro de precisão.

Para mais informações sobre os fundamentos do tiro de precisão, acesse a apostila redigida por Tiago José Ávila em seu site: https://tiagao.com.br/downloads/apostila-fundamentos-do-tiro.pdf