Playoff da LNTP – O Trap Americano em expansão
- março 10, 2021
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Reportagem sobre como foram as provas do grande Playoff da LNTP que ocorreu em Uberlândia em dezembro de 2020
Reportagem sobre como foram as provas do grande Playoff da LNTP que ocorreu em Uberlândia em dezembro de 2020
Em uma competição que marcou época, pela presença de atiradores de todas as regiões brasileiras, o Clube Caça e Pesca de Uberlândia foi o cenário de nove campeonatos concorridas e competitivas.
A cidade de Uberlândia sediou no período de 1º a 6 de dezembro de 2020, a etapa única do Playoff Internacional LNTP de Trap Americano. O histórico Clube Caça e Pesca (http://ctuberlandia.com.br) foi o palco do campeonato, organizado pelo Clube de Tiro uberlandense e promovido pela Liga Nacional de Tiro ao Prato.
Com cerca de 1500 inscrições no torneio — com a presença de atiradores de 19 estados brasileiros, que representaram, portanto, todas as regiões do país — o Playoff Internacional de Trap Americano foi dividido em nove campeonatos: a Taça Eurotarget de Trap 50 foi realizada no dia 1º; o torneio Máquinas Felippi Challenge de Trap Double 50 aconteceu no dia 2; o Brasileirão Pavel Armas – 100 Singles ocorreu no dia 3; já no dia 4 aconteceram o Circuito Shooting House de Trap 50 e o Campeonato Brasileiro CBC de Trap Double. A Copa do Brasil Castellani de Tiro ao Prato – 200 Single foi no dia 5, enquanto no dia 6 foram realizados o Grand Prix Beretta – 100 Singles, além do Super 300 e Super 400.
Maurílio Miranda Júnior — Diretor de Tiro ao Prato do Clube de Tiro de Uberlândia —, responsável pela coordenação geral do grande evento, ficou muito feliz com o sucesso do Playoff: “A nossa avaliação é a melhor possível. Nós organizamos algo inédito, foi a primeira vez em que o torneio foi tocado nesse modelo”, frisou. “A cada dia, aconteceu um campeonato. Cada campeonato foi diferente daquele disponibilizado no dia seguinte e assim sucessivamente. Nós utilizamos aqui no Caça e Pesca um modelo norte-americano e foi um sucesso”, comemorou.
O Clube Caça e Pesca registrou intenso movimento em todos os dias de competição. As 10 pedanas permaneceram sempre concorridas com os atiradores demonstrando competitividade, o que era fácil de perceber pela intensa concentração nas expressões faciais de cada um deles. Os espectadores também se movimentavam entre as pedanas, muita gente assistiu às provas, como foi o caso da família Assis, formada pelo casal Roberta e Frederico, e os filhos Lucca e Daniel, de 20 e 18 anos, respectivamente, residentes em Uberaba. “Sempre gostei muito de atirar e tenho muito interesse pelo Trap Americano”, conta o pai. “Ele me ensinou a atirar desde quando éramos namorados e hoje sou apaixonada por esse esporte”, diz Roberta. Os dois filhos seguem pelo mesmo caminho e já providenciam a contratação de um instrutor. “Após conseguirmos nos aperfeiçoar, pretendemos entrar de vez no Trap Americano”, revela o mais velho dos garotos.
Os diferentes estandes instalados no Caça e Pesca também estavam movimentados, em um sinal de que bons negócios podem ter sido realizados. Estiveram presentes no evento as marcas tradicionais de armamentos, maquinários, insumos, roupas e acessórios, além do tradicional café que foi oferecido gratuitamente a todos. Estava claro nos estandes a preocupação estratégica de expor as marcas ao público competidor presente em Uberlândia.
Outro fato que chamou a atenção das pessoas, foi a presença do Exército Brasileiro — Uberlândia é sede do 36.º Batalhão de Infantaria Motorizado (36.º B I Mtz), uma unidade desta força armada — que apresentou ao público — função de alguns oficiais, sempre muito atenciosos, gentis e disponíveis, é preciso registrar — alguns blindados como o BTP Guarani, um blindado anfíbio de 18 toneladas e tração 6×6, capaz de transportar 11 militares. Ele mede 6,91 m de comprimento, 2,7 m de largura e 2,34 m de altura.
Como já é característica do tiro esportivo, sobretudo no Trap Americano, o ambiente durante as competições se manteve muito agradável o tempo todo. A garra de cada competidor para atirar bem e realizar um bom campeonato não impedia a cordialidade e a diversão fora da pedana. Famílias inteiras circulavam pelo clube, fato que indiscutivelmente alegrava o ambiente.
Os competidores que estiveram em Uberlândia avaliaram não só a qualidade das competições, mas também a própria conjuntura do Trap Americano como um esporte em expansão no Brasil
O gaúcho de Nova Prata Daniel Taiarol, 37 anos, diz que o Trap “reúne uma conjunção de coisas boas, pois só me traz benefícios. O Trap Americano é praticado apenas por pessoas de boa índole”, afirma. Ele conta que começou em 2014 atirando com uma carabina de pressão e depois foi para o tiro esportivo: “o ótimo ambiente me atraiu. Hoje eu tenho amigos no Brasil todo e viajo para todos os campeonatos da Liga e da CBTE”. Taiarol argumenta “que cada dia na prova é um dia diferente. “A disputa não é com os outros atiradores, mas é você disputando com o prato. O principal na concentração é você estar bem consigo mesmo”. O gaúcho acrescenta que
O tiro esportivo cresce a cada competição e cita o Playoff de Uberlândia “como um exemplo claro dessa expansão”.
Outra presença importante no Clube Caça e Pesca foi a de Carlos Eduardo Marques, de Ponta Grossa (PR) e presidente da Confederação Paranaense. Há 40 anos no esporte, Marques aposta no crescimento do tiro, sobretudo do Trap Americano, “se houver a continuidade de uma política facilitadora da compra de armas, de munição e de demais insumos”. O dirigente e competidor prossegue dizendo que “o tiro esportivo, evidentemente, é uma atividade cara. A grande barreira que precisamos derrubar é a que envolve os preços. Só assim, não se iluda, será possível viabilizar a entrada de mais praticantes”, esclarece.
Depois de elogiar o campeonato de Uberlândia, “tudo muito bem organizado, tudo muito bonito, atirei 200 pratos em dois dias”, Marques informa que
“realizaremos novamente o campeonato paranaense de Trap e o de Hélices”. Ele acrescenta que o Clube Caça e Pesca de Ponta Grossa, sediará, em abril, um evento internacional, “ o 5th South American Cup da Amateur Trapshooting Association – ATA da ATA (Amateur Trapshooting Association)”. “Vamos sediar também a final do campeonato paranaense porque a equipe de Ponta Grossa do Caça e Pesca foi a campeã estadual de 2020”.
O alto nível de competitividade do campeonato foi destacado por Reinaldo José da Silva, de Sinop (MT), esportista de Trap Americano desde 1996 e árbitro no Caça e Pesca. “Realmente aqui o nível foi altíssimo’, o que, segundo ele, reflete “uma evolução muito rápida do Trap no Brasil”. Todavia, Reinaldo diz que ainda se trata de um esporte muito caro” e essa realidade só será alterada “se houver uma redução drástica dos impostos”. A atual conjuntura, na opinião dele, impede maior expansão do Trap Americano.
Mais uma presença de muita relevância no Playoff Internacional de Uberlândia foi a do empresário Marcello Bonatto, importador no Brasil das armas fabricadas pela consagrada marca italiana Beretta. Pela atividade que exerce, Bonatto tem experiência e credibilidade para avaliar a expansão no país do Trap Americano “Não é apenas dizer que o governo agora incentiva o esporte, mas o que efetivamente ocorre é que há é um acréscimo muito grande com a atuação da Liga Nacional”, analisa. “A entidade veio para inovar o esporte. Por isso, há muita gente nova atirando, como prova esse evento, com praticamente 1.500 inscrições”.
O importador da Beretta vai mais longe quando afirma que “no Brasil há uma importante quebra de paradigma em relação ao tiro”. Ele justifica o seu raciocínio dizendo que acompanha o esporte há 12 anos e nota que os competidores atualmente “têm amor pelo esporte; o tiro a hélice cresce bastante enquanto o tiro ao prato é uma modalidade em evolução crescente em todo país justamente pela motivação dos praticantes”. “Você observa, por exemplo, muitas mulheres atirando, adolescentes atirando com autorização dos pais e também com autorização judicial”. Mais uma quebra de paradigma.
Mesmo reconhecendo a dificuldade provocada pelo “o custo de cada tiro, da arma e do prato, além carga tributária muito elevada”, Bonatto diz que o Brasil “é um mercado muito interessante, não só para a Beretta, como também para todos os fabricantes de armas”.
Aos 32 anos de idade, Eduardo Soares Dantas Valença, de Brasília, é um competidor especial, pois é cadeirante. Há cerca de um ano no Trap Americano — “primeira competição de que participei foi justamente aqui no Caça e Pesca em 2019” —, ele, que sempre gostou de atirar, salienta que o “Trap é um esporte dinâmico, diferenciado, que exige muito movimento. A cada momento é um tiro diferente, e isso me atraiu demais, muito mais do que o tiro parado”.
Eduardo conta que tenta participar o máximo possível dos campeonatos, “mas é que eu pratico outros esportes como wakeboard, Trilha UTV adaptado e esqui”.
Porém, ele diz que pretende se dedicar muito mais ao tiro “agora em 2021; vou focar mais em treinamento para poder me aprimorar”.
Como não poderia deixar de ser abordado, o brasiliense é só elogios ao ambiente do Trap: “as pessoas me recebem muito bem, fazem de tudo para que eu me sinta confortável, fazem questão de serem solícitas e eu me sinto acolhido”. O esportista lembra que não são todos os lugares que têm estrutura adequada, “mas aqui em Uberlândia, o clube está todo acessível, os banheiros são adaptados com acessibilidade e as pedanas têm rampas”.
Outro fato de destaque foi a presença de jovens atletas – categoria junior – competindo no Playoff Internacional. João Pedro Ferro Viana, de Goiânia (GO), de apenas 14 anos, conta que começou a praticar Trap Americano. somente há dois meses:
“é um esporte viciante e eu faço o máximo possível para me sair bem. É o primeiro torneio que venho com o meu pai, que pratica tiro há muitos anos”. O garoto quer se dedicar ainda mais ao Trap e pretende realizar clínicas com instrutores e aprender mais com o pai.
Já Nicholas Massau Hori, 16 anos, de Monte Alto (SP) conta que começou há três anos no tiro incentivado pelo pai, entusiasta do esporte. Nicholas, inclusive, é ambicioso no que se refere ao tiro: “eu tenho muita vontade de participar de uma olimpíada, é o que me motiva. Demonstrando maturidade, o paulista fala que “a chave de tudo é adquirir experiência, e eu preciso adquiri-la com o tempo, por isso vim aqui em Uberlândia”.