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O Uso da Eletrônica e da Informática no Treinamento de Atletas de Tiro ao Prato

  • agosto 27, 2025
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Por Luiz Eduardo Dias e Roberth l. de Oliveira Vieira* – Introdução O tiro ao prato é uma modalidade esportiva que exige precisão, concentração, coordenação óculo-motora e muito

O Uso da Eletrônica e da Informática no Treinamento de Atletas de Tiro ao Prato

Por Luiz Eduardo Dias e Roberth l. de Oliveira Vieira*

– Introdução

O tiro ao prato é uma modalidade esportiva que exige precisão, concentração, coordenação óculo-motora e muito dedicação. Para atingir níveis de excelência, os atletas dependem não apenas de talento ou de técnica adquirida. Os treinamentos a seco e com tiro real são fundamentais para a manutenção da memória muscular da concentração e do equilíbrio mental necessário.

Nesse sentido, o tiro esportivo possui semelhanças com o golfe, e enquanto os simuladores de golfe alcançaram avanços significativos, os simuladores de tiro ao prato, até pouco tempo atrás, vinham enfrentando dificuldades para replicar os aspectos mais críticos do esporte. Entretanto, com o avanço tecnológico, novos sistemas e novas versões de sistema já superaram algumas barreiras e tornaram-se muito valiosos para o treinamento de atletas.

Desde os primórdios do tiro ao voo, os atiradores necessitavam apenas de uma arma, munição, alvos, disposição e tempo para realizar seus treinos. Com o passar dos anos, ficou evidente que para se conseguir um nível de excelência é fundamental a orientação sistemática de um técnico, volume de treinamento, acompanhamento psicológico e preparação física. Entretanto, com a evolução tecnológica, o uso de aparatos eletrônicos, associados à computação gráfica e inteligência artificial vem se destacando como importantes auxiliares no processo de preparação de atletas de alto rendimento no tiro esportivo. Estas ferramentas tecnológicas potencializam o treinamento oferecendo recursos que auxiliam na análise de desempenho, correção de erros e otimização da técnica.

Neste artigo vamos apresentar quais são as principais ferramentas que vêm sendo utilizadas e discutir um pouco sobre as vantagens e desvantagens de suas utilizações.

– A eletrônica e a informática auxiliando a preparação de atletas de tiro esportivo

Com o desenvolvimento tecnológico nas áreas de eletrônica e informática, foram desenvolvidas várias ferramentas (aparatos, sistemas e aplicativos) que uma vez aplicadas estrategicamente, podem proporcionar um salto qualitativo na preparação técnica, tática e mental dos atiradores. Entre os recursos mais impactantes estão:

1) Sistemas de rastreamento e análise de movimentos;

2) Simuladores de tiro com ou sem realidade virtual;

3) Softwares de estatística e planejamento de treino;

4) Vídeos de análise e inteligência artificial;

5) Equipamentos que objetivam o maior controle do estado mental e biofeedback.

1. Sistemas de Rastreamento e Análise de Movimento

Um dos principais avanços tecnológicos no treinamento técnico de atletas de tiro esportivo, em especial no prato é o rastreamento eletrônico do movimento da arma, com sensores acoplados à espingarda que capturam dados sobre a trajetória e aceleração do cano durante a execução do movimento técnico até o disparo. Os dados são transmitidos a um software que reconstrói graficamente o gesto técnico do atirador. Esses sistemas, muitas vezes integrados a softwares de análise, permitem que treinadores e atletas revisem o gesto técnico em detalhes, identifiquem padrões e ajustem características como postura, a aceleração e o tempo de reação, permitindo uma análise objetiva da performance.

Existem diferentes sistemas de rastreamento e análise de movimentos disponíveis, alguns idealizados originalmente para as diferentes modalidades de tiro ao voo, outros para tiro de precisão e que podem ser adaptados para as modalidades de tiro ao voo. Entre os diferentes sistemas disponíveis no mercado, os mais populares são:

Noptel Sport II


Desenvolvido na Finlândia, o Noptel é um sistema óptico de rastreamento eletrônico de alta precisão, projetado para analisar o movimento da arma de fogo e o comportamento do atirador durante o processo de visada e disparo. Ele se conecta a um sensor de feixe infravermelho preso sob o cano da espingarda. Esse sensor registra a trajetória da ponta do cano em relação ao prato e ao momento do disparo, permitindo analisar a precisão do (movimento da arma, o ponto de quebra (disparo) e a estabilidade da visada. O software fornece gráficos, vídeo sincronizado e feedback numérico sobre cada disparo.

O sistema utiliza um sensor óptico infravermelho montado sob o cano da espingarda. Este sensor emite um feixe de luz invisível que é direcionado a um alvo (geralmente um refletor) ou superfície calibrada. No caso do tiro ao prato, o refletor pode ser posicionado em um local fixo (para treino de visada) ou em uma tela de simulação para treinos indoor.

Os dados capturados são exibidos em um software da Noptel, que mostra gráficos como:

Linha de rastreamento: trajetória do cano em relação ao alvo;

Linha de rastreamento: trajetória do cano em relação ao alvo;

Ponto de quebra do tiro: momento e posição exatos do disparo;

Estabilidade do movimento: nível de oscilação antes e depois do disparo;

Tempo de visada e reação: quanto tempo o atirador demora para decidir e disparar;

Padrão de repetição: permite comparar vários tiros em sequência e avaliar consistência.

Embora o Noptel tenha sido inicialmente mais difundido para modalidades de precisão, ele também é utilizado no treinamento de tiro ao voo, com adaptações específicas. Isso é extremamente útil para:

  • Corrigir erros no swing e transição entre pratos.
  • Reduzir antecipação ou hesitação no disparo.
  • Treinar o momento certo da quebra do prato com base em dados objetivos.
  • Melhorar a eficiência do movimento e reduzir tempo de reação.

Principais Benefícios

  • Feedback imediato e objetivo.
  • Alta precisão de rastreamento (sub-milimétrica).
  • Permite treinar em ambientes indoor sem munição real.
  • Grava e compara sessões anteriores.
  • Ideal para treinamento técnico e psicológico simultaneamente.

Requisitos e Observações

  • Precisa de alvo refletivo e ambiente controlado (evitar interferência luminosa).
  • O sensor não mede impacto real em prato de argila, mas sim o comportamento do atirador antes do disparo.
  • Necessita de computador ou notebook com software Noptel instalado.

DryFire

De origem britânica, o DryFire é um simulador eletrônico de tiro desenvolvido para reproduzir com precisão a experiência do tiro ao prato em ambiente fechado. Ele utiliza sensores infravermelhos, motores de movimentação e software de simulação gráfica para criar situações realistas de tiro. Ele permite a reprodução fiel de todas as modalidades do tiro ao prato, e mede o ponto de impacto em relação à trajetória do prato. Além disso, integra gráficos e estatísticas de desempenho ao longo do tempo, possibilitando análises detalhadas da técnica individual.

O sistema é composto por uma unidade de projeção (lançador simulado) que projeta um alvo simulado (prato virtual) em movimento, com velocidade e trajetória ajustáveis, por meio de motores internos que giram para gerar diferentes ângulos de lançamento, imitando pratos de Skeet, Fossa Olímpica, Trap Americano e Sporting Clay.

Seu funcionamento é baseado em um sensor de disparo (acoplado à espingarda) que emite um pulso infravermelho no momento do disparo.Este sensor detecta para onde a arma estava apontando no exato momento do disparo a seco.Um software recebe dados do sensor e projeta o prato em uma tela, parede ou monitor e exibe o tempo de reação, a linha de swing (movimento da espingarda), o ponto de impacto estimado, a linha de rastreamento da mira, o momento do disparo e a distância do centro do prato.

  • Mantis X10 Elite (com Mantis Shotgun Adapter)

Embora originalmente desenvolvido para armas curtas, o Mantis X10, acoplado com o adaptador de espingarda, fornece uma análise cinemática da movimentação do atirador: aceleração, trajetória, estabilidade no pré-disparo e acompanhamento pós-disparo. Ele também oferece feedback imediato por meio de aplicativos móveis, sendo especialmente útil para o treino de consistência no swing.Existe uma versão anterior Mantis X7 que foi inicialmente desenvolvida para tiro ao prato, que, por um valor inferior ao X10, ainda pode ser adquirida.

Tanto o Mantis X7 quanto o Mantis X10 Elite são sensores de análise de desempenho em tiro, mas eles têm características técnicas distintas e aplicações diferentes, o que afeta diretamente sua adequação ao tiro ao prato. Veja no quadro abaixo uma comparação direta entre as duas versões, seguida da recomendação com base na modalidade:

CaracterísticaMantis X7Mantis X10 Elite
Foco EspecíficoDesenvolvido exclusivamente para armas longas, como espingardas (ideal para tiro ao prato, Skeet etc.)Pistola, rifle, espingarda, arco e outros
Sensores InternosAcelerômetro + giroscópioAcelerômetro + giroscópio + magnetômetro + sensores de movimento avançados
Feedback TécnicoAnálise de swing, timing de disparo, estabilidade e quebraTodos os recursos do X7 + análise dinâmica de posição corporal (com acessórios adicionais)
Modo de TiroProjetado para tiro com arma longa (sem compatibilidade com pistolas)Compatível com todas as armas e modalidades
ConectividadeBluetoothBluetooth + sincronização com múltiplos dispositivos
Gráficos e MétricasAnálise de tempo de reação, acompanhamento do cano, movimentação antes e após o disparoTudo isso + feedback em tempo real e modos avançados de treino
Preço (referência EUA)Aproximadamente US$ 150–200Aproximadamente US$ 250–300
Compatibilidade com adaptador de espingardaSim (nativamente)Sim (com adaptador opcional específico)

Pensando exclusivamente no tiro ao prato, parece que o Mantis X7 é a melhor escolha, pois foi desenvolvido especificamente para espingardas, considerando as várias modalidades de tiro ao voo. Ele fornece métrica importantescomotempo de preparação e quebra do tiro, consistência do swing, estabilidade da arma antes do disparo e comparativo entre tentativas. Outro ponto positivo é ser mais simples de configurar e interpretar.

TrueClays – Virtual Training System

O TrueClays representa uma nova geração em neurotreinamento, pois oferece uma experiência única de treinamento virtual, proporcionando um nível de realismo que realmente se traduz no campo de tiro. O sistema contempla todas as disciplinas de tiro ao prato, registra com precisão cada disparo e expressa a quebra dos alvos no mesmo intervalo de tempo do tiro real.

Além disso, simula a dispersão dos fragmentos dos alvos na direção correta, permitindo que os atletas treinem o subconscientemente e otimizem o gesto técnico com apenas alguns disparos, com maior compreensão do que ocorre durante a execução do movimento até o disparo.

Para aumentar ainda mais esse realismo, o TrueClays incorpora um gerador 3D que pode recriar campos de tiro mais realistas, possibilitando que o atleta possa treinar e se familiarizar com um ambiente e/ou background antes mesmo de uma competição.

Características do sistema

O sistema fornece réplica de arma dedicada ao treinamento virtual, equipadas com sensores eletrônicos integrados que replicam o peso, o equilíbrio e a sensação de uma arma real. Outra opção, para atletas de alto rendimento e os mais experientes, é o treinamento utilizando sua própria arma, equipando-a com sensores de disparo acoplados aos canos.

O TrueClays fornece feedback preciso e insights detalhados sobre o movimento do cano durante a execução do gesto técnico, à medida que você dispara sobre um alvo, desde o início do movimento até o momento exato em que o disparo é efetuado. Fornece, ainda, o desconto em relação ao prato e outros dados chave de desempenho, ajudando o atleta a refinar rapidamente sua técnica e melhorar a eficiência do tiro.

O sistema permite a personalização completa da sua configuração, possibilitando configurar seus cartuchos, choques e desempenho da arma. Além disso, leva em conta fatores importantes, como a altura do atleta e posição dentro do posto de tiro.

Os disparos podem ser registrados, revisados e anotados com comentários, facilitando a análise do desempenho, com o compartilhamento de dados entre alunos e treinadores. Outro aspecto interessante é o fato de contemplar treinamentos simultâneos por equipes, onde até seis atletas podem formar uma equipe, tornando o treinamento mais realista. A possibilidade de introdução de cenários de competição e de pressão (adversidade de clima, p.e.) durante o treinamento em equipe aprimoram a experiência.

sistema eletrônico para tiro a seco
O sistema permite o treinamento utilizando sua própria arma, equipando-a com sensores de disparo acoplados aos canos. Foto divulgação TrueClays.

Para conhecer um pouco mais sobre o sistema, veja o review: https://trueclays.com/review/

Mega VR Simstock

Este simulador britânico abrange diferentes modalidades de tiro ao voo e tem como diferencial a utilização de uma espingarda eletrônica própria, fato que pode ser um ponto negativo. Entretanto, esta espingarda eletrônica possui várias regulagens para um bom ajuste de visada, além de permitir a colocação de pesos extras para que o peso seja igual a arma de cada atirador.

O Clay Hunt VR é um sistema de treinamento, pois a tela pode ser transmitida ao vivo para outro dispositivo, como uma TV de tela grande, tablet, celular ou basicamente qualquer dispositivo para o qual seja possível transmitir um vídeo. Assim, os treinadores podem visualizar, monitorar e corrigir problemas enquanto o aluno atirador está em realidade virtual. Quando usado com o Simstock (espingarda eletrônica), os treinadores também podem monitorar o encaixa da arma (monta), o contato com a bochecha, o swing e outros fatores importantes no ensino da técnica correta de espingarda do aluno.

No aplicativo, o usuário pode personalizar uma grande variedade de variáveis ​​para a arma, desde varilha, choques, tipos de armas. O ajuste da arma também pode ser ajustado no aplicativo para corresponder perfeitamente à visada que você obtém com suas armas do mundo real. Para mais informações, acesse o site da empresas: https://www.megavr.co.uk/ .

2. Simuladores de tiro com e sem realidade virtual

Os simuladores de tiro, com ou sem realidade virtual, são recursos poderosos para a prática sem o uso de munição real. Eles permitem treinos em ambientes controlados e oferecem feedback em tempo real, com indicadores visuais e estatísticas de desempenho. Além disso, a realidade virtual proporciona cenários imersivos que ajudam o atleta a desenvolver reflexos, foco e resistência mental em condições variadas, inclusive sob pressão.

Simuladores de tiro têm ganhado espaço como ferramentas de altíssimo valor técnico e pedagógico. Eles permitem que o atleta treine com regularidade, sem necessidade de munição real, prato ou campo, oferecendo ainda condições controladas para treino de fundamentos.

Vantagens da realidade virtual e simulações:

  • Custo reduzido com munição e manutenção de pratos.
  • Segurança e possibilidade de treinar em qualquer local.
  • Repetição controlada e personalizada de exercícios técnicos.
  • Acompanhamento digital dos erros e acertos com dados estatísticos.
  • Condicionamento mental, ao treinar sob pressão simulada.

Principais sistemas:

  1. Marksman Virtual Shooting Range
    Este sistema simula tanto o tiro esportivo quanto o militar, oferecendo ambientes interativos com sensores e análise de desempenho. Em sua versão voltada para o tiro ao prato, oferece diferentes cenários e permite ao treinador acompanhar, em tempo real, o comportamento da mira, o tempo de reação e o ponto de impacto virtual. Está presente em centros de treinamento de alto rendimento, especialmente na Europa.
  2. SmashTech VR Shotgun Training
    Voltado para o uso com headsets de realidade virtual como óculos Rift ou HTC Vive, este simulador oferece uma experiência imersiva que simula tanto o ambiente do campo de tiro quanto os lançamentos realistas dos pratos. O sistema analisa a posição da espingarda virtual, a linha de visada e os disparos em 3D, permitindo treinos que incluem aspectos emocionais (imersão e pressão), além da técnica.
  3. LaserShot Virtual Gun Range
    Este sistema é mais comum em ambientes militares, mas também tem versões adaptadas para o esporte. Usando armas reais adaptadas com laser, o sistema simula o comportamento balístico e responde com precisão ao ponto de impacto. É útil tanto para iniciantes, por reduzir o custo inicial de munição, quanto para atletas avançados, na repetição controlada de gestos específicos.

3. Softwares de estatística e planejamento de treino

Plataformas informáticas especializadas auxiliam no registro e análise dos resultados de treinos e competições. Elas permitem ao treinador identificar tendências, comparar desempenhos ao longo do tempo, planejar ciclos de treinamento e personalizar exercícios conforme os pontos fortes e fracos de cada atirador. Algumas ferramentas ainda integram gráficos de desempenho e relatórios automáticos que facilitam o acompanhamento da evolução do atleta.

No mercado você pode encontrar sistemas prontos como TrapScore, TrapApp, MyClays e Tiro al Vuelo. Existem sistemas mais complexos e direcionados para técnicos de atletas com alto desempenho, como ShotTracker (Shotgun Performance Tracking) que inclui planejamento de treinos técnicos, feedback por alvo e tempo de reação e análise comparativa entre atletas.

Por outro lado, o uso de planilhas de Excel pode ser bastante interessante, uma vez que o atleta e seu técnico podem incluir variáveis específicas na planilha tornando-a mais pessoal ou individualizada para cada atleta.

4. Vídeos de análise e inteligência artificial

A gravação em alta velocidade dos treinos, associada a softwares de vídeo análise, oferece insights valiosos sobre o momento exato do disparo, o padrão de movimentação do prato e a resposta motora do atirador. Com o uso crescente de algoritmos de inteligência artificial, já existem sistemas capazes de identificar erros recorrentes automaticamente, sugerindo correções e estratégias de melhoria baseadas em dados históricos.

Com câmeras posicionadas atrás do atirador ou em múltiplos ângulos (ou com o uso de drones) são realizadas gravações, em alta taxa de quadros como 120 fps ou mais, para capturarem o movimento do atleta, do cano e do prato. O uso de sistema de IA permite o rastreio da posição do corpo e da espingarda, a trajetória do prato com base no ponto de saída e direção e o tempo entre o lançamento e o disparo. Desta forma, o sistema realiza uma análise técnica automática de variáveis como:

  • Tempo de reação real (do lançamento ao disparo).
    • Ângulo e velocidade do swing (movimento da espingarda).Erro de alinhamento (tiros fora do eixo do prato).
    • Identificação de padrões como acertos mais frequentes em alvos à esquerda do que à direita, por exemplo.

Os sistemas mais comuns que podem ser adquiridos são:

Sistema / SoftwareFuncionalidadeAplicação
Coach’s Eye / DartfishAnálise de vídeo com marcações manuais ou semi-automáticasPadrões de swing e postura
ShotKamCâmera acoplada na espingarda que grava somente no disparoTrajetória da visada do prato
Kinovea (open source)Rastreamento de movimento quadro a quadroAnálise técnica personalizada
MyTarget / SkeetMaster (Proprietário)Sistemas de rastreamento para trap/skeet com sensoresEstatísticas de alvos e padrões
OpenPose + OpenCV (Customizado)IA para análise de movimento corporalUsado em setups experimentais ou universidades

5. Aparatos que visam o maior controle do estado mental e biofeedback.

Além da técnica, o controle emocional é crucial no tiro ao prato. Equipamentos de biofeedback, como sensores de frequência cardíaca e eletroencefalogramas portáteis (EEG), ajudam os atletas a monitorar seu nível de estresse e foco durante a prática. Esses dados são utilizados para desenvolver técnicas de respiração, relaxamento e concentração, fundamentais para manter o desempenho sob pressão.

O uso de tecnologias no treinamento de atletas de tiro ao prato vai além da técnica de disparo. Hoje, uma preparação de alto rendimento exige integração entre desempenho técnico, planejamento estratégico e controle fisiológico, especialmente em esportes de precisão como este, onde o fator psicológico tem impacto direto nos resultados. A eletrônica e a informática permitem reunir esses elementos de forma coordenada, personalizada e mensurável.

A performance no tiro ao prato depende tanto do gesto técnico quanto do estado emocional. O uso de tecnologia de biofeedback permite ao atleta identificar seu nível de excitação fisiológica e aprender a controlá-lo. Isso é crucial para manter foco, estabilidade emocional e tempo de reação sob pressão, especialmente em finais ou em tiros decisivos.

Aplicações práticas de biofeedback no tiro ao prato:

  • Controle da frequência cardíaca:
    A variabilidade da frequência cardíaca (HRV) é um bom indicador de equilíbrio entre tensão e relaxamento.
    Exemplo: O uso do sensor Polar H10 ou HeartMath Inner Balance, conectado a apps móveis, permite ao atleta visualizar sua curva de excitação durante uma sequência de disparos e treinar técnicas de respiração para reduzir o estresse antes do disparo.
  • Monitoramento de ondas cerebrais (EEG portátil):
    Dispositivos como o Muse 2 (uma faixa para a cabeça com sensores EEG) permitem rastrear o nível de atenção e foco mental.
    Exemplo: Após sessões de treino, o atleta pode visualizar gráficos de concentração durante séries de disparos e relacionar quedas de desempenho com momentos de dispersão mental.
  • Sincronização com rastreadores de mira:
    Sistemas como o Mantis X10 podem ser sincronizados com sensores de HRV para mostrar, por exemplo, como a elevação do batimento cardíaco afeta a estabilidade do swing e a antecipação do disparo.

Além da prática do gesto técnico, a eletrônica e a informática permitem ao treinador integrar todas essas informações em plataformas que cruzam dados fisiológicos, estatísticos e técnicos. Softwares como Coach’s Eye, Kinovea, ou sistemas mais robustos como Dartfish, são utilizados para sincronizar vídeo com gráficos de desempenho.

Equipamentos de biofeedback, como o HeartMath Inner Balance (monitoramento de variabilidade cardíaca) ou sensores de EEG portáteis como o Muse, ajudam os atletas a manter o foco e a desenvolver resiliência mental durante os treinos.

Exemplos de softwares aplicáveis:

  • Coach’s Eye e Dartfish: o primeiro foi descontinuado em 2022. O funcionamento do Dartifish baseia-se em gravações de vídeo com análise quadro a quadro, utilizados para identificar desvios no movimento do atirador e sincronizar com dados de rastreamento.
  • Longomatch: Software open-source de análise de desempenho que pode ser adaptado ao tiro ao prato para catalogar padrões de erro/acerto, tempo de resposta e evolução semanal.
  • Microsoft Excel + Power BI: Com entrada manual ou automatizada (via sistemas como DryFire ou Noptel), permite criar dashboards interativos com gráficos de acertos, tempo de reação, performance por ângulo de prato etc.

A combinação de dados técnicos e fisiológicos permite criar rotinas de treino mais inteligentes, como:

  • Identificar o melhor horário do dia para treinar (baseado em foco/HRV).
  • Inserir sessões de respiração consciente antes de simulações de competição.
  • Trabalhar consistência mental com exercícios de visualização e monitoramento do estado interno.
  • Estabelecer metas semanais com base em métricas reais e não apenas percepção subjetiva.

Exemplo de aplicação integrada:

Um atleta de fossa olímpica treina 4 vezes por semana com DryFire em casa e 2 vezes no estande real. Durante os treinos indoor, ele utiliza o Muse 2 para monitorar foco e o Polar H10 para controle de HRV. Os dados são analisados no Power BI, onde o treinador identifica que a precisão cai nos últimos 15 minutos de treino sempre que o batimento ultrapassa 140 bpm. Com isso, ele insere pausas técnicas, exercícios respiratórios e reduz o número de repetições por bloco. Resultado: aumento de consistência nas fases finais da série real.

Vantagens e Desvantagens do Uso de Tecnologias no Tiro ao Prato

O uso de eletrônica e informática no treinamento de tiro ao prato oferece inúmeros benefícios, mas também apresenta algumas limitações e desafios. A seguir, são listadas as principais vantagens e desvantagens:

– Vantagens

CategoriaBenefícioDescrição
Desempenho TécnicoFeedback ImediatoSistemas como DryFire, TrueClays e Noptel fornecem dados instantâneos sobre o gesto técnico.
Repetição e PrecisãoAlta ReprodutibilidadeA possibilidade de simular o mesmo exercício com condições idênticas melhora a consolidação de habilidades motoras.
Análise AvançadaDiagnóstico de ErrosRastreadores e software de vídeo análise identificam padrões invisíveis a olho nu.
Custo-EfetividadeRedução no uso de munição e pratosSimuladores e realidade virtual reduzem gastos com cartuchos, pratos e manutenção de campo.
Treinamento MentalControle EmocionalCombinado a biofeedback, o treino tecnológico permite desenvolver resistência psicológica.
AcessibilidadeTreino em locais fechados ou domésticosAtletas podem manter regularidade mesmo fora dos campos tradicionais.

– Desvantagens

CategoriaLimitaçãoDescrição
Custo InicialInvestimento ElevadoSistemas como SCATT, TrueClays,  DryFire e simuladores de realidade virtual exigem investimento inicial alto.
Dependência TecnológicaFalta de contato com variáveis reaisNenhum sistema simula 100% das condições reais, como vento, ruído e luminosidade em competições.
Curva de AprendizadoExige capacitaçãoAlguns softwares e sensores requerem tempo para serem usados corretamente por treinadores e atletas.
Falta de Feedback TáctilDiferença sensorialSimuladores não reproduzem com perfeição o recuo ou a sensação real do disparo.
Manutenção TécnicaAtualizações e compatibilidadesEquipamentos exigem atualizações constantes e podem apresentar falhas técnicas.

Conclusões

O uso de tecnologias avançadas no tiro ao prato não substitui a prática tradicional, mas a complementa com dados e ferramentas que antes estavam fora do alcance dos atletas. Sistemas de rastreamento e simuladores modernos oferecem um novo nível de entendimento do gesto técnico, promovendo uma evolução mais rápida, personalizada e objetiva. Em um esporte em que milésimos de segundo definem a vitória a integração da eletrônica e da informática no treinamento do tiro ao prato representa uma verdadeira revolução na forma como os atletas se preparam. A precisão dos dados, a personalização do treino e a possibilidade de simular situações de competição tornam o processo de evolução mais eficiente e objetivo. Para os atiradores que buscam excelência, dominar essas ferramentas pode ser o diferencial entre um bom desempenho e a vitória em grandes competições.

*Roberth l. de Oliveira Vieira é campeão brasileiro de Skeet e faz uso do sistema TrueClays em seu programa de treinamento.