Comprar uma espingarda: reflexões para quem vai iniciar no tiro ao voo esportivo

Veja alguns aspectos importantes que devem ser considerados para a escolha de qual espingarda comprar para se iniciar no mundo do tiro ao voo esportivo.

Luiz Eduardo Dias

Para o iniciante no tiro ao voo esportivo é comum surgir uma grande dúvida: qual espingarda comprar? Todos nós passamos por esse momento, por isso não fique ansioso. Procure colegas mais experientes em seu clube, leia os inúmeros artigos e vídeos que estão disponíveis na internet. Este artigo, por exemplo, tem o objetivo de trazer informações básicas para auxiliar nas respostas que todo iniciante precisa receber.

De imediato, trata-se de uma indagação que não é fácil de ser respondida. O atleta mais experiente possivelmente iniciará a resposta dele com uma inflexão: “depende”! Ou seja, depende do seu objetivo no esporte, depende de sua disponibilidade de recursos, depende de qual ou quais disciplinas de tiro ao voo serão praticadas, depende de sua ansiedade em ter uma arma — quanto tempo você está disposto a esperar para tê-la em mãos— e, por fim, outros aspectos como beleza, design e preferência por um determinado fabricante.

— Qual é o seu objetivo no tiro ao voo esportivo?

— Por que praticar tiro ao voo? Quando o interesse pela prática de tiro esportivo não é passado de pai para filho — o que é muito comum de ocorrer — ele pode ter origem a partir de uma reportagem, por meio de um amigo ou conhecido que insistiu em apresentar o esporte ou ainda por uma publicidade veiculada em um canal da mídia. O interesse de praticar um esporte, independentemente de qual for, passa pela necessidade de se exercitar, socializar, relaxar, competir ou incluir algo mais em nossas vidas que possa trazer alegrias.

Uma parcela daqueles que iniciam na prática de um esporte continuam com o interesse principal de se divertir, relaxar e desfrutar de um ambiente familiar e amigável, como é o caso do tiro ao voo esportivo. No entanto, o interesse e amor pelo esporte pode evoluir e surgir a vontade — ou até a necessidade — de se dedicar mais seriamente, como participar de campeonatos e até quem sabe, tornar-se um atleta de alto rendimento. Aliás, a grande vantagem do tiro esportivo é que o avançar da idade, não necessariamente significa a perda da capacidade de competir e obter bons resultados. Para estes que querem se dedicar mais seriamente ao esporte, a compra de armas importadas, chamadas de primeira linha, passa a ser quase que uma exigência. Eu disse quase, pois existem exemplos de atletas que frequentam os lugares mais altos de pódios e atiram com arma brasileira. Independentemente da marca da arma, o mais importante é que esta esteja perfeitamente ajustada às características físicas e anatômicas do atleta.

Independentemente da marca da arma, o mais importante é que esta esteja perfeitamente ajustada às características físicas e anatômicas do atleta.

— Qual é a modalidade de tiro ao voo que será preferencialmente praticada?

— Dependendo da disciplina escolhida para a prática, é importante escolher uma espingarda mais adequada, pois características como peso, coronha, comprimento de cano e altura de varilha podem ser de grande importância para não só o aprendizado, como também para a obtenção de bons resultados. Por exemplo: armas de canos mais longos são utilizadas nas modalidades de Trap Americano e Fossa Olímpica, enquanto as mais curtas são mais adequadas para Skeet.  Para Percurso de Caça (Sporting) e Hélice (FAN32), as mais indicadas são as de varilha baixa, mais apropriadas para visada de caça e semiautomáticas.

Para provas de Percurso de Caça (Sporting) as espingardas mais recomendadas são aquelas de varilha baixa e mais leves, como as semiautomáticas que não pesam durante o percurso a ser vencido.

A recomendação geral é sempre pesquisar e perguntar a instrutores de tiro e atiradores mais experientes quais são as características ideais da espingarda para cada modalidade de tiro esportivo.

— Qual é a disponibilidade de recursos para aquisição da espingarda?

— Se o objetivo não é a dedicação intensa e sim a diversão, não há necessidade de iniciar por espingardas novas e de “primeira linha” que possuem custos elevados e podem demandar maior tempo para importação. Armas usadas de primeira linha podem ser adquiridas mais rapidamente. Por outro lado, não significam que elas sejam baratas. O que se recomenda é que o iniciante não invista muito em sua primeira arma até ter a certeza de que ele realmente deseja continuar no esporte. Mas se a questão financeira não é problema, a opção por uma espingarda de “primeira linha” não precisa ser descartada, pois existe um mercado bastante ativo e, caso o atirador pense em abandonar o esporte, possivelmente não terá dificuldade em vendê-la, desde que a venda ocorra conforme a legislação brasileira. Para o iniciante, as chamadas espingardas de “segunda linha” atendem perfeitamente o período de aprendizado e sedimentação de conhecimentos técnicos práticos e teóricos do tiro esportivo ao prato. O que mais pode diferenciar as espingardas de primeira e segunda linhas são os aspectos relacionados ao peso e à distribuição deste ao longo da espingarda (equilíbrio), resistência/durabilidade, características de cano — comprimento cone interno, chamado de cone de forçamento (forcing cone) — importante para diminuir o recuo* — acabamento, necessidade de manutenção, qualidade da madeira da coronha e detalhes de gravuras na báscula feitas à mão que embelezam as armas.

* Veja o artigo sobre recuo. Click no link: https://revistapedana.com/uma-rapida-visao-sobre-recuo-da-arma-esportiva/

Espingardas de fabricação nacional

No Brasil, a ER Amantino Indústria Metalúrgica Ltda. fabrica as espingardas Boito (https://www.armasboito.com.br).  Existem diferentes modelos a custos razoáveis que podem ser adquiridas em lojas especializadas. O modelo mais utilizado é a Aera 2001, com coronha regulável. Outra opção, que é a mais indicada para atiradores esportivos, é entrar em contato com representantes regionais especializados em vendas diretas para Clubes de Tiro e CACs. Esta alternativa permite ao atirador obter uma arma exclusiva com características apropriadas ao seu físico e anatomia da face, além de mais uma série de opções quanto aos detalhes de acabamento. Para adquiri-las, entre em contato com o fabricante e solicite o contato do representante de sua região.

Espingardas fabricadas no exterior

A TAURUS/CBC (https://armasmunicoes.com.br)    oferece ao mercado espingardas importadas da Turquia (Khan Arms) que são finalizadas no Brasil e recebem a marca da empresa (https://www.cbc.com.br/wp-content/uploads/2020/06/Catalogo_Khan.pdf). São armas que despertaram grande interesse por parte de atiradores, por possuírem aparente robustez e preço intermediário entre a nacional e as importadas de segunda linha. Ou seja, um interessante posicionamento mercadológico. Infelizmente, os primeiros lotes de importação rapidamente foram vendidos. O mercado aguarda novas importações.

Quanto às espingardas importadas, existem inúmeros fabricantes. Alguns são muito antigos e estão há mais de um século no mercado. Sem dúvida que em termos de números de fabricantes e em tradição, a Europa, notadamente a Itália, se destaca em relação aos demais continentes. A importação de espingardas diretamente pelo CAC é permitida no Brasil, porém é necessário um processo de importação em que normalmente se lança mão de despachantes especializados que tornam o processo mais simples para o CAC. Lembrando sempre que é necessário pagar imposto de importação, IPI de importação, PIS de importação, Cofins de importação e ICMS (estadual) de importação. Além dos impostos, tem-se os honorários do despachante e taxas de armazenamento. Enfim, infelizmente para o tiro esportivo, o processo de importação armas é longo e caro.

A seguir, a lista de alguns exemplos de modelos de espingardas fabricadas no exterior e utilizadas para as diferentes modalidades de tiro esportivo ao voo.

* Valores estimados de preços na Inglaterra, sem impostos locais e de importação, podendo variar em função do valor da Libra em relação ao Real e de opcionais disponíveis aos modelos.

De acordo com a Cartilha do CAC (http://cac.dfpc.eb.mil.br/index.php/legislacao-cac/category/5-colecionador-atirador-e-cacador-cac) para realizar a importação são necessários os seguintes requisitos e cumprimento das seguintes etapas:

Requisitos Necessários:

– Possuir Certificado de Registro (CR) na validade;

– Ter representante legal ou agente credenciado para registrar a Licença de Importação (LI) no Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX).

Documentos Necessários

– Certificado Internacional de Importação (CII) aprovado, numerado e válido;

– Certificado de Registro (CR) na validade;

– Requerimento para Desembaraço Alfandegário.

Etapas do Processamento do Serviço –

1ª Etapa:

– Entrada do requerimento para obtenção do Certificado Internacional de Importação (CII) na DFPC;

– Após análise do requerimento e após o deferimento, o comprador receberá uma numeração;

– De posse da numeração, o interessado fará o registro junto ao SISCOMEX, onde será gerado o número da LI (Licença de Importação);

– Diariamente, o analista da DFPC faz a análise das LI (Licença de Importação) no sistema, com o status de “EM ANÁLISE”;

– Estando as informações corretas é dado o status de “EMBARQUE AUTORIZADO”;

– O interessado tomará conhecimento do novo status e entrará em contato com o exportador;
2ª Etapa:

– Quando a mercadoria chegar, o SFPC/RM fará a vistoria e encaminhará a informação da mesma pelo sistema, por meio de um relatório;

– O analista da DFPC confronta os dados do relatório enviado pela RM (Região Militar), com a cópia do CII (Certificado Internacional de Importação) e com o SISCOMEX (Sistema de Comércio Exterior), mudando o status para “DEFERIDO”;

– Após esse status, o interessado faz a retirada do seu material.

 Conforme relatado, o processo de importação engloba várias despesas extras e pode ser demorado, variando de seis a dez meses. Outro aspecto interessante, é o fato de que alguns países permitem que o CAC busque a espingarda na fábrica ou no revendedor e retorne ao Brasil despachando-a como bagagem. Outros, já não permitem, fazendo com que o processo siga a tramitação normal, de acordo como descrito acima.

Enfim, a escolha da espingarda para iniciar no tiro ao voo esportivo depende de vários fatores. Procure não se prender à imagem de que somente armas caras são adequadas para a prática do esporte. Temos apenas uma fabricante nacional, o que não quer dizer que seus modelos sejam inadequados. Muito pelo contrário.

Uma vez adquirida a espingarda, procure um instrutor ou armeiro para que sejam realizados os ajustes necessários na coronha. Depois disso, preparasse para desfrutar de um esporte cativante que envolve desafios pessoais e sempre traz, como retorno, o prazer de conquistas e a convivência salutar de um ambiente familiar e colaborativo.

Tiro ao voo: um esporte cativante que envolve desafios pessoais e sempre traz, como retorno, o prazer de conquistas e a convivência salutar de um ambiente familiar e colaborativo.

Bons tiros!!!

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