ESPINGARDAS PARA MULHERES: MARKETING OU UMA OPÇÃO PARA OBTER MELHORES RESULTADOS?

armas para mulheres

Para conseguir bons resultados nas diferentes modalidades de tiro ao voo, é fundamental que as espingardas estejam ajustadas a anatomia da atleta. Alguns fabricantes de armas desenvolveram modelos que se adaptam mais facilmente às características do corpo feminino. Veja, neste artigo, um pouco mais sobre estas armas fabricadas especialmente para elas.

Por Luiz Eduardo Dias

A espingarda e seus ajustes

As espingardas, quando legalmente possuídas e corretamente manejadas, são instrumentos de defesa, esporte e lazer. No caso do tiro ao voo, que é uma ótima atividade esportiva e de lazer, a sua prática deve ser com conforto para que traga prazer.

Este conforto que falamos, que é fundamental para a prática do tiro ao voo, somente é conseguido a partir de um bom ajuste da coronha às características anatômicas da atleta. Nos artigos que escrevi sobre às partes e funcionamento das espingardas e sobre o recuo decorrente do disparo do cartucho, comentei um pouco sobre os ajustes de coronha e caraterísticas das armas que diminuem este efeito.

Estes ajustes, assim como as características da arma que diminuem o recuo, são fundamentais para a boa adaptação da espingarda ao atleta e, com isto, aumentar a possibilidade de obtenção de altos rendimentos no tiro ao voo, independentemente da modalidade que se pratica.

No tiro esportivo, uma das máximas é: a espingarda deve ser adaptada a você, e não você à espingarda. Muitas vezes, o tiro ao voo trás frustrações ao atleta por não ter o rendimento esperado, ou pelo grande número de pratos que não são pulverizados, apenas pequenos pedaços são tirados dos pratos pela chumbada. Possivelmente isto esteja ocorrendo pela falta de um bom ajuste da arma às características anatômicas do atleta, prejudicando sua visada e conforto.

Até poucas décadas atrás, as mulheres eram obrigadas a atirarem com armas feitas para as características anatômicas dos homens. Para que estas se adaptassem às características do corpo feminino, eram necessários enormes ajustes, como por exemplo, o corte da coronha, para diminuir a distância entre a soleira da coronha e o gatilho, uma vez que os braços das mulheres tendem a ser mais curtos que os dos homens.

Normalmente, o que difere o corpo da mulher em relação ao do homem é tamanho, peso e massa muscular. Se uma espingarda é fabricada para um homem médio (europeu e americano), que possui altura média (1,78 m e 84 kg) certamente ela requer ajustes para adaptá-la para cada atleta que tenha características corporais diferentes. Afinal, cada um de nós é um indivíduo único.

Características anatômicas que influenciam o ajuste das espingardas

Quais características anatômicas femininas podem influenciar o ajuste da espingarda e melhorar o rendimento da atleta? Mãos menores e braços mais curtos, seios, maçãs do rosto mais altas, pescoço mais longo e, o mais importante, grupos musculares geralmente mais fracos.

Se uma atleta possui um pescoço longo, pode ser mais difícil realizar um bom e firme ajuste da bochecha na coronha, uma vez que ela não é elevada o suficiente para apoiar adequadamente a bochecha. Além de aumentar a altura do naselo, uma boa saída para esta situação é a utilização de armas com varilha mais alta. Entretanto, dependendo da modalidade o uso de varilha alta não é o mais adequado. Obviamente a posição de tiro também vai influenciar este ajuste.

Atletas americanos tendem a ter uma postura mais ereta do pescoço e cabeça, contrariamente ao atleta europeu, que busca uma posição de tiro mais inclinada para frente, reduzindo a necessidade de uma naselo mais elevado na coronha. Armas mais antigas ou modelos mais simples não possuem ajuste de naselo, dificultando o ajuste de pit e cast.

O ajuste de cast é outro aspecto importante, tanto para a mulher como para o homem. Ou seja, o perfil anatômico da bochecha influência diretamente na posição de alinhamento do cano com a coronha. Ou seja, ao apoiar a bochecha de maneira firme e confortável na coronha, a visada deve estar perfeitamente alinhada com o cano de maneira que ao disparar o cartucho, a chumbada vá diretamente ao ponto (alvo) que a atleta está olhando.

O ajuste do cast do naselo é fundamental para o adequado alinhamento da pupila da atleta com a varilha e a massa de mira da espingarda. Fonte: Revista Pedana

Outro aspecto que pode influenciar o conforto ao montar (colocar a arma na posição de tiro) uma espingarda é o tamanho das mãos. Mulheres normalmente possuem mãos menores e mais finas, dificultando a empunhadura do cabo/gripe da arma. As armas fabricadas para as mulheres possuem cabo mais finos, tornando a empunhadura mais confortável e facilitando o acesso ao gatilho.

Enfim, é evidente que não basta adquirir uma arma excelente para ter bons resultados no tiro ao voo. Uma espingarda de qualidade pior, mas bem ajustada ao atleta, é mais eficiente do que uma de excelente qualidade não corretamente ajustada ao atleta.

Muitos atletas partem para as coronhas feitas sob medida por artesões. Quando as possibilidades de alteração das características da coronha original não permitem um bom ajuste para a atleta, trata-se de uma ótima opção a confecção da coronha sob medida. Entretanto, para uma mulher, o bom ajuste e equilíbrio de uma espingarda pode ser mais conseguido de maneira mais barata e facilitada com a aquisição de modelos fabricados especificamente para elas.

Características das espingardas que afetam o o conforto ao atirar

Comprimento e peso do cano também influenciam a postura, conforto e rendimento do atleta. Quando uma atleta procura se inclinar para trás parta atirar, adotando uma postura desequilibrada que requer forte compensação muscular, é sinal que existe um desbalanço. Este desbalanço pode ocorrer em decorrência de um cano muito longo ou pesado para a constituição muscular da atleta. Para compensar o desbalanço, a atleta é obrigada a alterar a postura correta, se inclinando para trás para que possa manter o cano da arma nivelado.

Ao acionar o gatilho da espingarda, os chumbos contidos no cartucho são expelidos com muita energia, causando uma reação da arma no sentido contrário ao disparo, ou seja, na direção do corpo do atirador. Trata-se do recuo. Efeito que inicialmente pode assustar as iniciantes no tiro ao voo. As fábricas de armas trabalham arduamente para tornarem suas espingardas mais leves e menos agressivas em termos de recuo. Entretanto, quanto mais leve for a espingarda, maior será seu o recuo para um mesmo cartucho, mantendo-se constante as outras variáveis que afetam o recuo.

As armas possuem na parte interna do cano um cone metálico de forçamento ou estrangulamento da chumbada. Este cone provoca a redução da bitola interna do cano, a partir da câmara, para um valor que resulte em maior concentração de chumbos, sem prejuízo à integridade do cano. O alongamento deste cone, além de prover maior precisão ao tiro, também reduz o recuo da arma. Alguns modelos projetados para mulheres adotam cones de comprimento maior.

Em relação ao peso da arma, conforme comentado acima, as espingardas devem apresentar um equilíbrio entre este e o recuo. Se a arma for muito leve, seu recuo tenderá a ser maior.

Veja, a seguir, alguns modelos de espingardas fabricadas especificamente para mulheres.

Espingardas para mulheres

Grande parte das espingardas fabricadas para mulheres apresentam modelos com calibre 20 e 12, tanto para caça como para o tiro esportivo. Algumas fabricantes disponibilizam modelos com calibres ainda menores, direcionadas para a caça, como o calibre 28 ou .410. As espingardas de calibre 20 tendem a ser mais leves que as de calibre 12, porém são pouco utilizadas no Brasil para tiro ao voo. Em Minas Gerais houve época em que a Federação Mineira de Caça e Tiro – FMGCT promovia a copa Minas Gerais de Compak nas modalidades de calibre 12 e de 20.

Série Vittoria da Beretta

A secular empresa italiana, desde sua famosa série 680, vem produzindo modelos específicos para mulheres. Estas espingardas recebem o nome de Vittoria e possuem características que as tornam mais facilmente ajustadas para as atletas. Coronhas mais leves, com pistol grip mais finos e Monte Carlo menos acentuado (a empresa da o nome de Semi-Monte Carlo) e canos mais curtos são as principais modificações implementadas nestes modelos.

Entre a série 680 a 686 Silver Pigeon Vittoria foi a precursora entre os modelos direcionados para caça e sporting clays, com varilha baixa e canos sobrepostos.

A série 690 da Beretta apareceu como sucessora da premiada série 680 dos anos 60-90. Com significativos avanços tecnológicos, entre eles a presença de um cone de forçamento maior. Dentre os modelos desta série o destaque é para o modelo 693 Vittoria.

Beretta 693 Vittoria

A Beretta 693 Vittoria é comercializada com configurações direcionadas tanto para caça como para o tiro esportivo, todos baseados na clássica plataforma da 690. Com canos sobrepostos e calibres 12 e 20, possui coronha menor (distância entre soleira e gatilho de 35,6 cm), pit mais alto com terminação Semi-Monte Carlo. Pesando cerca de 3,3 kg, possuem a opção de canos de 26”, 28” e 30” (66 cm, 71 cm e 76 cm, respectivamente).

espingarda para mulheres beretta 693 vittoria
A 693 Vittoria é o modelo da Beretta desenhado para mulheres, possuindo todos os avanços técnicos da linha 690. Fonte: divulgação.

Browning Citori CX Micro

A famosa fabricante de armas Browning não possui um modelo fabricado especialmente para mulheres. Entretanto, o modelo Citori CX Micro de canos sobrepostos possui coronha menor, fazendo com que a distância entre soleira e gatilho seja de 33,3 cm. Com isto a espingarda é mais adequada para os braços mais curtos das mulheres, facilitando a postura correta e mais confortável para o disparo. Aliás, uma das vantagens deste modelo é a soleira (Graco) regulável, permitindo ajustes da distância em relação ao gatilho e inclinações e altura, a fim de permitir um ajuste mais fino da coronha em relação às características anatômicas da atleta.

Possui câmara de 3” e somente a opção de cano de 30” com choques cambiáveis, fato que resulta em um peso de cerca de 3,9 kg, ou seja, 600 g mais pesada que a Beretta 693 Vittoria.

Zoli Z-Bella

A linha Z-Bella da tradicional e secular família Zoli foi desenhada especificamente para mulheres. Esse modelo é vendido apenas no calibre 12, com a disponibilidade de canos com 28, 30 e 32 polegadas e choques cambiáveis. Possui varilha baixa cônica, mas também pode ser encomendada com varilha média ou alta.

espingardas para mulheres zoli bella
A linha Z-Bella da Zoli foi desenhada especificamente para mulheres. Fonte: divulgação.

Com caixa de gatilho destacável para facilitar a troca e manutenção, seus componentes são revestidos de titânio e molas autolubrificantes. O gatilho é ajustável, permitindo melhor ajuste da distância entre este e a soleira.

Semelhante as outras armas fabricadas para mulheres, o pistol grip é menor e mais próximo de gatilho para acomodar mãos menores. Más um diferencial, de acordo com a fabricante, é seu sistema “Between Hands Balancer (BHB)” no pistol grip que permite melhor ajustar o equilíbrio e balanço da arma.

Krieghoff K-80 Victoria

Construída a partir da mesma base da K-80 Parcours, a K-80 Vitoria possui alterações na coronha que permite maior comodidade para as mulheres. Sua coronha, de nogueira turca, é mais e o pistol grip é menos ovalado para melhor adaptar a palma das mãos femininas.

espingarda para mulheres krieghoff_k_80
O modelo K-80 Vitoria da Krieghoff possui alterações na coronha que permite maior comodidade para as mulheres. Fonte: divulgação.

A empresa oferece diferentes tamanhos de cano, desde 28”, 30”, 32” e 34” com choques fixos (M e IM) ou cambiáveis. Seu peso, como qualquer espingarda, pode variar em decorrência do comprimento do cano, com o cano de 30” a K-80 Victoria pesa cerca 3,52 kg.

Seguindo tradição da empresa, a K-80 Victoria também é comercializada com diferentes opções de gravuras na báscula.

Syren Tempio Sporting

Fabricada pela Caesar Guerini, a linha Syren de espingardas foi a primeira empresa a projetar modelos específicos para mulheres. Com uma ampla variedade de modelos, que vão desde as semiautomáticas as de canos sobrepostos, com opções de calibre 12, 20 e 28 e comprimentos de cano de 28” e 30”, com choques cambiáveis. Dentre os modelos, destacam-se a Syrem Tempio Light Sporting, Syren Tempio Sporting e Syren Julia Sporting. De acordo com a fabricante, o sistema de locação de pesos nos canos, permite uma ampla variação do centro de gravidade (CG), tornando a arma mais equilibrada e fácil para atirar nas diferentes modalidades do tiro ao voo.

espingardas para mulheres Syren Tempio
A linha Syren, da Caesar Guerini, foi a primeira espingarda projetada especificamente para mulheres. Fonte: divulgação.

O modelo Syren Tempio Sporting de calibre 12 e cano de 30” pesa 3,6 kg e cano com varilha cônica (10-8 mm) ventilada de 6 mm de altura, de largura. A fim de reduzir o recuo e melhorar a balística, as espingardas de calibre 12 possuem cone de forçamento de 5”.

Como as demais fabricantes, a linha Syren também apresenta como padrão a distância menor entre a soleira e o gatilho (35,3 cm), porém seu sistema de regulagem de gatilho permite ajustes mais finos.

Sua báscula possui fino acabamento a mão, com design clássico de pergaminho e buque de rosas destacadas em ouro.

FabArm Elos N2 All Sport

As empresas FabArm e Syren são irmãs, apesar do modelo Elos N2 All Sport não ser comercializado especificamente como modelo feminino, ela foi desenhada com pequenas alterações como o pistol grip, mais adequado para as mãos das mulheres, na distância entre a soleira e o gatilho (35,6 cm) e ajustes micrométricos na coronha por meio do naselo móvel.

espingardas para mulheres elos n2-allsports
Modelo Elos N2 All Sport da FabArm possui modificações que facilitam os ajustes da arma para mulheres. Fonte: divulgação.

Este modelo possui a opção de canos de 30” e 32” com varilha ventilada cônica de 10 para 8 mm e altura de 10 mm e sistema Quick Release Ribs. Seus canos permitem choques cambiáveis (5 Exis HPTM Competition Chokes). O peso da arma com cano de 30” é de 3,49 kg.

Semiautomáticas

As armas citadas acima são de canos sobrepostos, mas tanto nos EUA como na Europa é comum a utilização, por parte das mulheres, de armas semiautomáticas, notadamente nas provas de Percurso de Caça e Compak. O uso de espingardas semiautomáticas é baseado no fato de serem mais leves que as de canos sobrepostos e, por possuírem sistemas de gás que ajudam na ciclagem dos cartuchos e redução no recuo.

Dentre as semiautomáticas, as mais comumente utilizadas por mulheres, são as Franchi Affinity 3 Compact, Winchester SX4, Mossberg 500 Youth Super Bantam e Remington 870 Field Master.

Cada fabricante apresenta detalhes em seus modelos que tornam as armas mais fáceis e amigáveis para as mulheres atletas praticarem o tiro esportivo.

Concluindo

Existem diferentes modelos de espingardas projetados especificamente para mulheres praticarem o tiro esportivo. Certamente o uso destes modelos não é condição fundamental para se ter alto rendimento no esporte, más, possivelmente, a utilização de espingardas projetadas especificamente para mulheres, permitiram, a elas, maior conforto e menor desgaste. Condições que podem refletir no resultado em provas longas com várias sequências de séries ou postos de tiros.

Os valores de aquisição destas espingardas variam muito entre os fabricantes. O ideal é ter a possibilidade de experimentá-las antes da compra. Infelizmente isso nem sempre é possível. A opção é acessar os sites das empresas para buscar mais informações, além é claro, dos diferentes sites e chats que comparam os modelos de espingardas.

plugins premium WordPress