Espingardas: partes e funcionamento

A espingarda é a ferramenta indispensável do atleta de tiro ao voo, assim como a raquete ou o taco é para o tenista e o golfista. Veja, com um pouco mais de detalhes, as partes e os mecanismos de funcionamento de uma espingarda.

Luiz Eduardo Dias, com a colaboração dos atiradores esportivos Eduardo M. de Melo Jr., Luiz Gonzaga Pompermayer e Tarso da Costa Alvim.

Todo CAC tem a obrigação de conhecer as partes de uma arma, seja ela revolver, pistola, carabina ou espingarda, a final, todos nós fizemos os exames de conhecimento e capacitação técnica exigidos para a obtenção do Certificado de Registro – CR. Entretanto, existem partes – notadamente as internas – em que o conhecimento não é exigido naquele exame.

Você não precisa fazer um curso de armeiro para saber, com mais detalhe, o nome das partes externas e internas de sua espingarda e o papel delas no funcionamento da arma. Esse conhecimento pode ser muito útil no dia a dia como, por exemplo, resolver pequenas problemas de mal funcionamento, ou compreender corretamente artigos técnicos ou mesmo na hora de realizar uma limpeza de manutenção mais detalhada.

Para tornar esse conhecimento mais acessível preparamos um pequeno guia que talvez seja útil a você, nosso leitor.

Visão de partes de uma espingarda de dois canos sobrepostos.

Partes e mecanismos de uma espingarda

As espingardas utilizadas para o tiro ao voo podem ser de um ou dois canos (sobrepostos ou paralelos) e manuais ou semiautomáticas. Entre as espingardas manuais de um ou dois canos sobrepostos, existe pouca diferença quanto aos mecanismos de funcionamento, obviamente o seletor de cano não existe nas primeiras.

Basicamente uma espingarda pode ser dividida em dois conjuntos:

Conjunto 1. Formado pelo(s) cano(s)+ varilha + telha + câmara + haste de acionamento do extrator + extrator;

Conjunto 2. Formado pela coronha + soleira + naselo (facultativo) + báscula + caixa da culatra.

Conjunto 1:

Cano (barrel): o comprimento do cano de espingardas pode variar em decorrência da finalidade da arma (caça, Trap, Skeet, Sporting Clay) e do fabricante. A maior parte dos fabricantes fazem modelos com comprimentos que variam entre 71/76/81 cm (28/30/32 in). Outras dimensões podem ser encontradas, porém não são tão comuns. A construção do cano também pode variar de fabricante para fabricante. Um aspecto importante é a dimensão do cone de forçamento (forcing cone) que existe internamente no cano a fim de reduzir a bitola interna do cano, a partir da câmara, para um valor que resulte em maior concentração de chumbos, sem prejuízo à integridade do cano. O alongamento deste cone, além de prover maior precisão ao tiro, também reduz o recuo da arma. Para mais informações sobre o cone de forçamento e o recuo das espingardas, veja matéria específica em nosso site.

https://revistapedana.com/uma-rapida-visao-sobre-recuo-da-arma-esportiva/

  • Varilha (rib): sistema de metal ou polímero situado acima do cano que permite a realização do alinhamento da massa de mira com o alvo. Existem de vários tamanhos (10 x 10, 10 x 8 e 6 x 6, por exemplo). Armas para a disciplinas de Trap usam varilhas mais altas, enquanto para Sporting Clay e Skeet a varilha é mais baixa.
  • Telha (forend): peça de madeira ou polímero, presa a parte inferior do cano, com a finalidade de permitir ao atirador colocar a mão, contrária à dominante, a fim de dar maior estabilidade a espingarda, quando em posição de tiro. Internamente possui um mecanismo que possibilita a separação dos conjuntos 1 e 2, quando a espingarda for basculada. Quando fabricadas de madeira, podem apresentar detalhes que embelezam a arma.
  • Câmara (chamber): localizada na parte anterior do cano é confeccionada de maneira a receber o cartucho que vai ser disparado. Sua dimensão pode ser de 70 mm, muito comum para espingardas de Trap ou 76,2 mm (3”) para cartuchos Magnum.
  • Haste de acionamento do extrator (ejector plunger): haste de metal que ao bascular a arma, aciona o extrator de cartuchos.
  • Extrator (ejector): mecanismo que segura o cartucho preso na câmara e quando do basculamento da arma, ejeta os cartuchos disparados.

Conjunto 2:

  • Coronha (stock): nas espingardas para tiro ao voo esportivo manuais normalmente são de madeira. Algumas fabricantes de semiautomáticas produzem coronha de polímero. Parte essencial da arma responsável pelo encaixe ao ombro do atirador, diminuição do efeito de recuo decorrente do disparo e apoio do rosto para que a visada seja realizada.
  •  Soleira (pad): localizada na parte posterior da coronha é responsável por tornar o contato da arma com o corpo do atirador mais confortável e reduzir o efeito de recuo.
  •  Naselo (adjustable comb): parte superior da coronha, onde o atirador apoia o rosto para fazer a visada. Internamente existe um mecanismo que permite regular a altura (drop) e o posicionamento lateral para mais próximo do rosto (casto on) ou mais afastado (cast off). A movimentação do naselo permite um perfeito alinhamento da íris do olho do atirador com uma linha central imaginária na varilha e, em termos de altura (drop) com a base da varilha.
Medidas da espingarda que são importantes para o correto ajuste da coronha com as características físicas do atleta para que se tenha a correta visada do alvo.
Detalhe do ajuste lateral do naselo. Para fora (direita) cast off e para dentro (esquerda) cast on.
  •  Báscula (action): parte de metal acoplada à coronha, onde o conjunto 1 se encaixa unindo esse ao conjunto 2. Ao acionar a alavanca da trava da báscula, o conjunto do cano se dobra, expondo a culatra. Quando a telha é retirada do conjunto do cano e o basculamento é realizado, o conjunto da coronha se separa do conjunto do cano. O ato de bascular a arma permite a introdução do cartucho na câmara.
  • Trava da báscula H: trava responsável por manter a arma fechada durante o disparo.
  •  Caixa da culatra (cock): a caixa da culatra é formada pela culatra em si e um compartimento interno da espingarda que abriga os mecanismos de seleção de cano, destravamento da arma e disparo.

Funcionamento de uma espingarda

Encaixado dentro da parte anterior da coronha a caixa da culatra abriga o mecanismo responsável pelo funcionamento principal de uma espingarda.

O mecanismo de disparo é composto pelo gatilho, mola, retentor do martelo, martelo, pinos de disparo, ferrolho, pino de liberação do ferrolho e peso de inércia para transferência da ação de disparo para o segundo cano. Algumas espingardas possuem ainda, um mecanismo de regulagem da distância da posição do gatilho em relação à base da coronha ou da soleira.

A parte superior da caixa da culatra recebe o nome de alça superior, onde se encontra a alavanca superior (orelha), responsável pelo destravamento do mecanismo que mantém a espingarda fechada. Ou seja, o cano e a telha formam um conjunto que – no caso de espingardas manuais – se destaca do conjunto da coronha e báscula, de maneira que expõe a câmara do cano. A câmara (parte anterior do cano que repousa sobre a báscula quando a arma está fechada) é o local onde o cartucho é alojado. O cartucho é colocado na câmara de uma maneira que a sua base (estojo) fica em contato com o extrator (ejetor).

Quando a espingarda é aberta (basculada) expõe a câmara para que o cartucho seja colocado e, ao mesmo tempo, uma haste de metal que se localiza na base da báscula é acionada e comprime a mola principal. Simultaneamente o pino de liberação do ferrolho é acionado deixando o ferrolho preparado para ser acionado pelo gatilho.

O basculamento do conjunto 1 – formado pelo cano – também ativa a haste de acionamento do extrator, de maneira que existindo um cartucho na câmara, esse é automaticamente expelido para fora. Existem espingardas mais simples que não possuem o sistema automático de extração de cartucho, sendo que essa operação é feita manualmente.

Espingarda basculada mostrando as câmaras e os extratores na posição de recebimento dos cartuchos. Notar a orelha aberta e logo abaixo a chave seletora de canos.

Na alça superior da caixa da culatra é onde tradicionalmente a chave seletora de cano é colocada em espingardas com dois canos. A partir dessa chave é possível selecionar em qual cano o primeiro disparo vai ser realizado.

Espingarda fechada e pronta para o disparo.

Esperamos que a leitura desse pequeno guia possa ter ajudado o prezado leitor. Talvez para boa parte dos atletas ele se mostra muito básico. No entanto, é fundamental que todo conhecimento seja compartilhado, independente de sua profundidade ou especialidade. O objetivo é informar e atrair – com conhecimento – mais praticantes ao tiro esportivo.

De maneira simplificada, esse é o processo de funcionamento de uma espingarda.

Bons tiros!

Fontes de pesquisa: Mastering Sporting Clays. Don Currie. Stackpole Books. Connecticut. USA. 2017. Site da Beretta: http://http//:www.beretta.com.

5 respostas

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