PHONOPULL – Equipamento Essencial para competições de tiro ao prato

O que é? Qual a importância para atletas do tiro esportivo? Qual a importância para as competições de tiro ao voo? Como funciona? Cuidados na instalação e nas manutenções.

Por Luiz E. Dias

Em inglês, voice release system ou  phonopull. Em português, sistema de liberação por voz. Ou seja, um sistema formado por microfones, cabos e componentes eletrônicos que transformam a voz humana em corrente elétrica que, por sua vez, atua sobre a máquina lançadora para soltar os pratos. Tradicionalmente as provas de tiro ao voo (Trap, Fossa Olímpica, Skeet e Hélice) são realizadas com estes equipamentos, a fim de se evitar o acionamento manual por parte de outra pessoa além do atirador.

O uso de phonopull é fundamental para as competições de tiro ao prato e hélice.

No início do tiro ao voo não se atirava em pratos e sim em pombos que ficavam presos em pequenas caixas de madeira (armadilhas, trap no inglês) que precisavam de uma pessoa para abrir a porta da armadilha e liberar o pássaro. Depois, mas ainda com a dependência de uma terceira pessoa, foi criado um sistema, por meio de um cabo, para a abertura da armadilha. Com a proibição do uso de animais para a prática do tiro ao voo, foram criadas máquinas para o lançamento de bolas de vidro e pratos feitos de argila e betume. Inicialmente, as máquinas eram manualmente acionadas a partir de um comando de voz do atirador.  Com o passar do tempo, as máquinas  evoluíram tecnologicamente e passaram a ser acionadas a partir de um pulso de corrente elétrica, porém necessitando ainda que uma pessoa (juiz) acionasse um botão para que ocorresse o lançamento do prato.

Para conhecer um pouco mais sobre a história do tiro ao voo, veja a matéria “Um breve relato sobre a história do tiro ao voo” link: https://revistapedana.com/historia-do-tiro-breve-relato/

O acionamento manual da máquina de lançamento de pratos depende de fatores que podem variar, pois envolve a capacidade do juiz de se manter atento ao comando de voz do atirador e de sua capacidade de resposta mecânica em converter o sinal sonoro em acionamento de um botão de disparo. Se consideramos somente estes dois fatores, é factível aceitar que existe uma variável no tiro ao prato que pode fugir de controle e resultar em condições desiguais entre os competidores.

A automação do lançamento de prato permite maior igualdade de condições entre os competidores de uma prova.

No caso da disciplina Skeet, o prato é lançado em um período de até três segundos após o atirador dar o comando de voz. Em outras disciplinas, como Trap Americano, Fossa Olímpica e Hélice, o prato é lançado em frações de segundo após o comando de voz. Desta maneira, dentro da rotina de disparo de cada atleta, caso exista um pequeno atraso no lançamento do prato — no caso de um acionamento manual —, este pode gerar desconforto e quebra da concentração. Portanto, é evidente que a automação do lançamento de prato permite maior igualdade de condições entre os competidores de uma prova.

Veja o artigo “Como manter o foco durante as competições” para melhor saber sobre a importância do momento do comando de voz para soltar o prato: https://revistapedana.com/como-manter-o-foco-durante-as-competicoes-tiro/

Como funciona um phonopull?

Para explicar à fundo o funcionamento de um sistema de phonopull é necessário, obviamente, um certo conhecimento técnico. Assim procuramos, a partir da leitura do artigo  de autoria de  Amorin et al. (2019), apresentar uma explicação simplificada de como um comando de voz aciona a máquina lançadora de pratos.

O comando de voz é captado pelo phonopull por um microfone. Dentre diferentes tecnologias de microfone, existe a capsula piezoelétrica, que vibra conforme a intensidade sonora do comando de voz, gerando um sinal de tensão elétrica alternado e proporcional. Este sinal precisa ser tratado por meio de filtros analógicos e digitais, para que seja possível separar o sinal correspondente da voz humana, em um nível de intensidade desejado, de outros ruídos de fundo. Com o emprego da tecnologia computacional em phonopull, a separação é realizada de maneira mais rápida e precisa. Estes sistemas recebem o nome de filtro ativo e, por meio de amplificação ou atenuação da tensão, permitem o isolamento do sinal na intensidade adequada.

Portanto, o “pulo do gato” é o uso de filtros adequados que possam excluir outros ruídos não desejados e somente o sinal, na intensidade equivalente à da voz humana, passe e chegue até o circuito controlador, onde é processado. Caso as condições de ativação sejam atingidas, o controlador comanda uma tensão elétrica para um relé que permite a circulação de uma corrente de curta duração (pulso elétrico), acionando a máquina lançadora de pratos.

Diagrama simplificado do fluxo de funcionamento de um phonopull para tiro ao prato.

Excluir o som do disparo de uma espingarda na pedana de tiro ao prato não  é simples.

A exclusão de sons indesejáveis pelo phonopull não é tão simples. O som de um disparo de espingarda, por exemplo, apresenta banda larga de frequência, podendo englobar as frequências de vozes humanas, tornando o processo de filtragem mais complexo. Para a solução deste problema, é necessário realizar pesquisas que possam gerar uma programação que reconheça e retenha sons indesejáveis, dentro de uma faixa de frequência que abrange as vozes humanas, e possa deixar passar somente a voz humana. As pesquisas evoluíram neste sentido e hoje o mercado, inclusive o nacional, já oferece um produto que possui esta tecnologia.

Instalação e manutenção do sistema de phonopull em uma pedana para tiro ao prato.

De maneira geral, a instalação do sistema de phonopull não é muito complexa. No entanto, exige a presença de uma pessoa que tenha conhecimento prévio sobre seu funcionamento. Na verdade, sua instalação não requer ajustes eletrônicos, porém a correta instalação é de grande importância para o seu bom funcionamento e durabilidade de seus componentes eletrônicos. Neste caso, a escolha de um produto nacional é um diferencial — uma vez que a empresa que produz fornece uma equipe especializada para sua instalação. Se a pedana de tiro ao prato já está construída e as tubulações não foram previamente instaladas, existirá um custo adicional para que estas sejam instaladas.

kit completo de phonopull com cinco unidades de captação de voz humana, utilizado para Trap Americano e outras disciplinas de tiro ao voo. Fonte: Astra – Automação e Robótica Ltda.

A instalação incorreta, notadamente em ambiente desfavorável, como tubulações com excesso de umidade ou susceptíveis ao contato de água pluvial, ou mesmo a casa da máquina lançadora em ambiente muito úmido, podem ser altamente prejudiciais aos componentes eletrônicos e conectores. Fatos que podem resultar na perda de garantia do produto.

A demanda por manutenção é praticamente mínima, refere-se basicamente aos cuidados gerais em relação aos componentes externos, como as cornetas de captação do comando de voz e a caixa de transformação da voz e filtragem de sinal (centralina) que não devem ficar em contato direto com o sereno e chuva. Da mesma forma, por serem componentes eletrônicos, são sensíveis à fortes variações de intensidade de corrente elétrica. Alguns clubes estão instalados em zona rural, com costumeiras flutuações de intensidade de energia. Nestes casos, são necessários o uso de estabilizadores de voltagens e sistemas de proteção.

Custos de aquisição

Com relação a custo de obtenção de um equipamento, vários fatores devem ser considerados. Primeiro, é a relação custo/benefício. Será que para um clube modesto que possui uma única pedana e poucos atiradores vale a pena o investimento?  Certamente que sim. Independentemente do número de atletas que atiram, é de suma importância que exista uma padronização no tiro. Desta forma,  o atleta que quiser competir, ou apenas praticar o esporte em qualquer clube de tiro do Brasil,  não terá surpresas desagradáveis em relação ao comando de lançar o prato. Outro aspecto a ser considerado é o fato de que pode reduzir custos para o clube de tiro, pois, no caso de treinos, o sistema exclui a necessidade de uma pessoa para acionar a máquina de lançamento de pratos.

Da mesma maneira, custo e facilidade de obtenção de peças de reposição e disponibilidade de assistência técnica devem ser considerados. No Brasil, a maior parte dos sistemas de phonopull instalados nos clubes de tiro esportivo são importados — uma vez que, até pouco tempo atrás, não existia um equipamento nacional. Obviamente que a aquisição de equipamentos importados acarreta o pagamento de taxas de importação e impostos que encarecem o custo do produto, notadamente em função da desvalorização de nossa moeda. Felizmente, houve importantes ações no passado que possibilitaram a instalação de sistemas em um grande número de clubes de tiro do Brasil. Dentre estes, especial destaque deve ser dado àquele patrocinado pela Liga Nacional de Tiro ao Prato – LNTP, que importou grande quantidade de equipamentos e vendeu para os clubes associados com subsídio, assumindo para si boa parte do custo de aquisição.

É com grande alegria que assistimos um enorme crescimento do tiro ao prato no Brasil — apesar das inúmeras dificuldades que nos são impostas — e mais pedanas estão sendo construídas pelo país afora. Portanto, a chegada de um equipamento nacional, com tecnologia de ponta, por um preço inferior aos equipamentos importados, é muito bem vinda.

Graças a ações de entidades como a LNTP observa-se um enorme crescimento do tiro ao prato no Brasil e mais pedanas estão sendo construídas pelo país afora.

Para saber mais sobre a história do desenvolvimento de um phonopull nacional por uma startup mineira, veja a reportagem publicada em nosso portal: https://revistapedana.com/universidade-startup-empreendedorismo-tiro-esportivo/

Amorin, E. J., Cambruzzi, M. , Nardi, C.  Acionador de dispositivo lançador de pratos para o tiro esportivo. In: Bertoncello R. & Souza, I. H. Portfólio de trabalhos de conclusão de curso do ano de 2017. Engenharia Elétrica FADEP, Pato Branco. 2019. p 4-12.

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