La Beretta: original, importante e querido

Um clube diferente; um campeonato diferente: uma festa do Trap Americano. Assim foi a sexta etapa do Campeonato Interestadual de Trap Americano, realizado — no período de 8 a 10 de outubro de 2021 — no Clube La Beretta em Guarda-Mor, MG.

Por Cezar Felix e Luiz E. Dias

No Alto Paranaíba, na região noroeste de Minas Gerais, nas proximidades da fronteira com Goiás, entre os municípios de Vazante e Paracatu, uma imponente serra emoldura a bela paisagem.  Formando uma longa chapada, a Serra dos Pilões se destaca entre um vasto planalto com vegetação típica de cerrado. Nesse planalto, à leste da serra, encontra-se a pequena cidade de Guarda-Mor, que teve grande importância histórica na fiscalização e no controle do ouro retirado do “Morro do Ouro”, em Paracatu, e encaminhado para Uberaba. Daí o nome do município, pois estes pontos de fiscalização eram gerenciados por um guarda-mor.

No alto da Serra, o por do Sol inspirou os atletas que participaram da VI Etapa do Campeonato Interestadual no Clube La Beretta.

Após passar pela sede do município de Guarda-Mor, uma estrada de terra segue serra acima em direção à região nordeste da Serra dos Pilões — trecho localmente chamado de Serra do Funil. Uma pequena saída a direita revela uma trilha de cascalho que termina em uma agradável sede de fazenda. Casa simples, com decoração primordial em motivos de caça, pesca e artesanatos harmoniosamente misturados com antiguidades. Esta é a sede do Clube de Tiro Esportivo La Beretta, idealizado e administrado pelo casal Dr. Regis Antônio Rosa Guimarães e Ana Flávia Beretta.

A agradável sede do Clube de Tiro Esportivo La Beretta em Guarda-Mor – MG.

O Clube La Beretta

Dr. Regis, médico radiologista, despertou interesse pelo tiro esportivo ainda criança por meio do incentivo de seu avô, “exímio atirador ambidestro, possuidor de uma espingarda Boito calibre 20 de canos paralelos”.

O interesse dele pelo esporte logo se transformou em uma paixão e, como consequência, surgiu a vontade de criar um clube — devido à carência de um local adequado na região — “que privilegiasse o tiro esportivo no sentido de fomentar o esporte, principalmente entre as mulheres e os jovens, e não tão somente para visar a parte financeira”. Com esta visão, Dr. Regis criou o Clube de Tiro Esportivo La Beretta, “lugar de ambiente familiar, onde prevalece o companheirismo, a amizade, a união e a integração dos amantes deste belo esporte.”

Vista da pedana principal do Clube de Tiro EsportivoLa Beretta.

O nome do Clube é uma homenagem ao avô da Ana Flávia, italiano que migrou para o Brasil na época da grande guerra, cujo sobrenome é Beretta. Conforme Dr Regis, “não deixa de ser uma dupla homenagem”, pois ele é um grande admirador de armas da marca Beretta, inclusive possui uma 686.

Assim como a maioria dos atiradores esportivos, Dr Regis vê com entusiasmo o crescimento do tiro ao voo no Brasil.  Porém, o médico não deixa de manifestar a sua preocupação quanto às dificuldades inerentes à prática dos esportes de tiro — notadamente pelos elevados custos e a incerteza sobre o futuro, em razão do momento político que vivemos em nosso país.

Dr. Regis: “o nome do Clube é uma homenagem ao avô de Ana Flávia, cujo sobrenome era Beretta”.

Sexta etapa do Interestadual de Trap Americano

A motivação para realizar um campeonato no Clube La Beretta surgiu a partir da forte amizade que une Dr. Régis e atletas de Brasília, Uberlândia, Patos de Minas e de Goiás. “Então porque não reunir os amigos em um campeonato”? As primeiras edições começaram com poucos atletas e, a cada ano, aumentava número de competidores.

Na sexta-feira os treinos foram realizados em uma atmosfera descontraída, favorecida pelas agradáveis e atípicas pedanas do Clube La Beretta.

Nesta sexta edição — realizada entre os dias 8 e 10 de outubro de 2021 — estiveram presentes 43 atletas que foram divididos nas seguintes categorias: damas (3); A (13); B (8); C (13) e veteranos (6).

O campeonato foi realizado na forma de Trap 100, sendo duas séries de 25 tiros em cada uma das duas pedanas do Clube. Para completar a confraternização, na noite de sábado foi realizado o “entrevero”, com a formação de sete equipes.

Na noite de sábado foi realizada a festa do entrevero com sete equipes.

A organização técnica do evento ficou sob a responsabilidade de Jefferson Silva Santos, atleta de Brasília, que realizou um belo trabalho, com muita competência e seriedade, sem deixar de lado o espírito de confraternização e o incentivo ao esporte que norteia o campeonato.

Os três primeiros colocados de cada categoria e as três equipes mais bem colocadas no entrevero foram premiadas com belos troféus. Essa atitude mostrou, mais uma vez, a importância dada pelos organizadores do evento à necessidade de incentivar os atletas.

O grande destaque desta etapa foi, mais uma vez, o atleta de Goiás Maurílio Miranda Jr, que já havia vencido a quinta Etapa do torneio no ano passado com 99/100 e venceu a deste ano com 97/100 – no desempate pelo count back com o atleta José Roberto Campos, também de Goiás.

Maurílio defendeu brilhantemente o título de campeão da V Etapa do Campeonato Interestadual do Clube La Beretta vencendo também a VI Etapa.

Categoria/ColocaçãoAtletaOrigemPontuação
Damas – 1Carla Angela A. Diogo de FariaGO85
Damas – 2Bruna Barros C. SantosDF51
Damas – 3Grasielli Lourenço CaixetaMG16
A – 1Maurílio Miranda JrGO97
A – 2José Roberto CamposGO97
A – 3Vanderlei Rabelo dos SantosMG95
B – 1Marcelo Caetano P. da SilvaMG91
B – 2Luiz Eduardo DiasMG90
B – 3Flávio de Oliveira GebrinMG88
C – 1Renato Carneiro FrancoMG94
C – 2Cesar A. Diogo de FariaDF87
C – 3Rodrigo do Carmo SilvaDF86
Veteranos – 1Junio Meireles de GodoyGO91
Veteranos – 2Humberto Pereira CarneiroMG84
Veteranos – 3Antônio Alves CorreiaDF82
Principais resultados da VI Etapa do Campeonato Interestadual de Trap Americano realizado no Clube de Tiro Esportivo La Beretta.

Depoimentos

Os atletas participantes da sexta etapa do Campeonato Interestadual de Trap Americano do Clube La Beretta traduziram com perfeição o sucesso do evento, principalmente no que se referiu à qualidade da confraternização — em um ambiente familiar e de demonstrações amizade — que caracterizou os dias dedicados às competições.

Para o atirador Rodrigo do Carmo Silva, de Brasília, o que aconteceu no La Beretta “é a principal característica do tiro esportivo, pois não se trata só de atirar e acertar o prato; é todo um contexto de amizade, de compartilhamento de conhecimentos e de confraternização entre as pessoas amigas. Isso faz parte do tiro”.

Há apenas quatro meses no tiro, Rodrigo conta que o esporte lhe permite enfrentar o estresse do dia a dia. “O barulho do tiro, o cheiro da pólvora …  tudo é apaixonante”, diz ele, que sonha em disputar grandes campeonatos.” Quero ir adiante. É um objetivo, mas antes é preciso priorizar o treinamento”.

A confraternização e seriedade durante as provas contribuiu para os bons resultados em todas as categorias disputadas.

Já o veterano Clésio Pires de Oliveira, também Brasília, atira desde os 10 anos de idade. Mineiro de Carmo do Paranaíba, ele começou a atirar Trap Americano e depois passou para a Fossa Olímpica e Fossa Double. Clésio já competiu em edições do Campeonato Brasileiro, da Copa Intercontinental e do Gran Prix internacional. Sobre a atual conjuntura do esporte, ele defende um maior incentivo, embora, nesse momento, haja o surgimento de novos CACs e de novos clubes. “Eu acredito que irão aparecer novos grandes atiradores”.

Para Clésio, o Brasil tem um potencial muito forte no tiro que, infelizmente, estava apagado pela burocracia na aquisição de armas e até em razão do preconceito pelo fato da arma ser uma coisa mal interpretada”, argumenta ele. “A arma para ao atleta de tiro é como um violão para o músico ou como se fosse uma raquete de tênis para o tenista”.

Clésio aposta que brevemente teremos um brasileiro como campeão olímpico de tiro ao voo.

Sobre o evento em Guarda Mor, Clésio o considerou “de imensa importância, inclusive pela presença de vários atiradores, de diferentes lugares de Minas, de Brasília e de Goiás”. O atirador aproveita para elogiar a estrutura do La Beretta: “é uma maravilha, um local muito aconchegante onde você percebe claramente que o pessoal ama o tiro. A confraternização, maravilhosa, engrandece o esporte. Além do mais, é muita gente jovem interessada, incluindo as moças se dedicando, querendo atirar”, observa.

Otimista, Clésio Pires de Oliveira aposta que o Brasil será campeão olímpico em breve, “exatamente pelo grande número de novos adeptos que investem no esporte”.  Para finalizar, ele se revela “muito honrado” pela homenagem que recebeu dos anfitriões Ana Flávia e Dr. Regis que deram o nome dele a uma das pedanas.

O uberlandense Marcelo Caetano Parreira da Silva, há seis anos no tiro, afirmou que o Clube La Beretta é “extremamente importante aqui na região” pelo fato de ter a capacidade de agregar todos os atiradores do planalto central. “O clube é o epicentro dos encontros dos atletas, amigos e famílias, por isso você percebe o quanto o evento é prestigiado”. 

Marcelo Caetano: “O clube é o epicentro dos encontros dos atletas, amigos e famílias”.

Thiago Lourenção, de Patrocínio – MG, atirador desde criança, mas que está no esporte há um ano, considera o torneio do La Beretta “muito salutar” para o esporte e assegura “uma imensa motivação para todos os atiradores”.

Por isso mesmo, Lourenção diz que pretende seguir em frente no esporte, inclusive buscando voos mais altos. “Acompanho os profissionais e tenho tentado me profissionalizar no tiro. Nesse período, já tenho alguns pódios e bons resultados. Pretendo ir em frente, ajudar o tiro e participar aqui foi de muita importância para mim”. 

Entusiasmado com o esporte, Thiago busca voos mais altos.

A atleta Bruna Barros Cavalcanti, de Brasília, há dois anos no Trap Americano, garante que o esporte “muda a vida da gente, porque você ganha um propósito, viaja nos finais de semana para praticar um esporte saudável que alegra”. Para ela, o evento no La Beretta sintetizou a “qualidade da confraternização como se fosse um encontro de uma grande família”.

Para Bruna o evento no Clube La Beretta “sintetizou a qualidade da confraternização como se fosse um encontro de uma grande família”.

Pedro Paulo Saraiva, de Uberlândia, lembra que o tiro “não é só a pedana, mas também um ambiente de muita amizade, tal qual comprova um evento “do mais alto nível” como o realizado no La Beretta. Há um ano e oito meses no esporte, ele conta que foi incentivado por um amigo. ”Ele me chamou e senti o cheiro da pólvora e gostei demais; pretendo continuar, viajar pelo Brasil e competir”, afirma ele.

Incentivado por um amigo, Pedro Saraiva sentiu o cheiro de pólvora e gostou de mais do esporte.

“Um esporte ótimo, o melhor possível. Participo de todas as provas, viajo todo o Brasil para competir. Assim, posso afirmar que esse é um evento espetacular para o atleta do tiro, já que a amizade entre todos prevalece o tempo todo”, declarou o brasiliense Carlos Wdemberx dos Santos, atleta há três anos no tiro.

De Patos de Minas, o jovem atirador Arthur Alberto Simões Marra lembra que o esporte de tiro “casa muito bem com o momento em que vivemos, de pandemia, que mexe com o emocional de todo mundo. Esse esporte vem para trazer uma boa saúde mental para todos”, reflete ele. “Além do desafio físico, existe o desafio mental que é ainda maior. Você fica em constante luta com a sua mente no instante em que atira”, argumenta. Arthur assinala o aspecto democrático do esporte onde jovens e idosos conseguem competir. Para ele, que pretende continuar competindo e ir aos campeonatos agora que a pandemia parece dar uma trégua. “Quero ir aos grandes centros como no sul do país, rodar bastante”.

Arthur finaliza, afirmando que o evento no La Beretta “fortalece muito o esporte” e traz uma interação com os outros clubes, de Minas, Goiás e Brasília. “iniciativas como essa tem a força de unir todos na luta contra o preconceito com as armas e colabora decisivamente para que muitos outros possam aderir ao esporte”.

A boa localização das pedanas do Clube La Beretta permite bom contraste do prato.

O atleta Jeferson Silva Santos, de Brasília, que atou na coordenação técnica desta sexta etapa, foi taxativo: “esse evento representa o que a nossa modalidade é: um esporte simplesmente fantástico. O pessoal vem pela amizade, pela confraternização. É um dos melhores torneios do país, é algo muito especial”. Praticante de Trap Americano, Fossa Olímpica e Compak, Jeferson começou no tiro no final de 2017, “quando fui em uma final de Fossa Olímpica em Caxias do Sul, momento em que eu realmente entrei no mundo do esporte em nível nacional. Porém, o brasiliense é crítico: “embora seja um esporte magnífico, infelizmente no Brasil, o esporte é jogado de lado. O atleta pratica é por amor”.

A confraternização

O ambiente familiar de confraternização é a marca desse agradável evento. A maioria dos atletas ficaram hospedados no próprio Clube La Beretta que se transformou em um belo “camping” de amigos, com as barracas distribuídas no entorno da sede. Sendo que aqueles que chegaram mais cedo tiveram a “esperteza” de colocar suas barracas em lugares mais privilegiados, como ao lado da cozinha, por exemplo.

Formou-se um camping de amigos do tiro esportivo, colaborando para a maior confraternização dos atiradores.

Aliás, este foi outro ponto forte do evento. Dr. Regias e Ana Flávia foram perfeitos na escolha dos cozinheiros e do cardápio. Pratos deliciosas típicos de Minas Gerais e Goiás foram servidos — a preços baixos e honestos —, trazendo (mais ainda) alegria e satisfação a todos.

A importância de um grande evento

Todos os atletas do tiro ao voo sabem da importância das entidades que regulam e fomentam o esporte. Entidades como a Liga Nacional de Tiro ao Prato – LNTP, Confederação Brasileira de Tiro Esportivo – CBTE, Confederação Brasileira de Caça e Tiro – CBCT e as inúmeras federações estaduais de tiro. Elas são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento do tiro esportivo.

Por outro lado, é evidente que os Clubes são as células básicas do esporte. Sem eles, não existiria a formação e a renovação de atletas.

Eventos como o Campeonato Interestadual organizado pelo Clube La Beretta, portanto, são fundamentais para o esporte — e devem ser, cada vez mais, incentivados e realizados. Esses eventos jamais podem ser interpretados como campeonatos “paralelos” ou de “pequena importância” em relação aos torneios e campeonatos realizados pelas grandes entidades que agregam tanto os esportistas quanto os clubes.

Eventos como o organizado pelo “La Beretta” são verdadeiros polos aglutinadores, fundamentais para trazer novos atiradores à prática do esporte. O ambiente saudável, de confraternização e de camaradagem, faz com que ocorram conversas e muitas demonstrações de trocas de saberes que estimulam os que estão se iniciando no esporte.

A camaradagem e troca de saberes foi uma constante durante os dois dias de Campeonato, tornando o evento uma experiência gratificante, tanto para os iniciantes como para os mais experientes.

Parabéns ao Dr. Regis, Ana Flávia, Jefferson e todos que contribuíram direta ou indiretamente à realização desse maravilhoso evento.

Para saber mais sobre as modalidades de tiro ao voo, veja matéria em nosso Portal:

https://revistapedana.com/disciplinas-de-tiro-ao-voo/

6 respostas

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