Playoff da LNTP – O Trap Americano em expansão

Playoff Internacional LNTP

Em uma competição que marcou época, pela presença de atiradores de todas as regiões brasileiras, o Clube Caça e Pesca de Uberlândia foi o cenário de nove campeonatos concorridas e competitivas.

A cidade de Uberlândia sediou no período de 1º a 6 de dezembro de 2020, a etapa única do Playoff Internacional LNTP de Trap Americano. O histórico Clube Caça e Pesca (http://ctuberlandia.com.br) foi o palco do campeonato, organizado pelo Clube de Tiro uberlandense e promovido pela Liga Nacional de Tiro ao Prato.

Com cerca de 1500 inscrições no torneio — com a presença de atiradores de 19 estados brasileiros, que representaram, portanto, todas as regiões do país — o Playoff Internacional de Trap Americano foi dividido em nove campeonatos: a Taça Eurotarget de Trap 50 foi realizada no dia 1º; o torneio Máquinas Felippi Challenge de Trap Double 50 aconteceu no dia 2; o Brasileirão Pavel Armas – 100 Singles ocorreu no dia 3; já no dia 4 aconteceram o Circuito Shooting House de Trap 50 e o Campeonato Brasileiro CBC de Trap Double. A Copa do Brasil Castellani de Tiro ao Prato – 200 Single foi no dia 5, enquanto no dia 6 foram realizados o Grand Prix Beretta – 100 Singles, além do Super 300 e Super 400.

Maurílio Miranda Júnior — Diretor de Tiro ao Prato do Clube de Tiro de Uberlândia —, responsável pela coordenação geral do grande evento, ficou muito feliz com o sucesso do Playoff: “A nossa avaliação é a melhor possível. Nós organizamos algo inédito, foi a primeira vez em que o torneio foi tocado nesse modelo”, frisou. “A cada dia, aconteceu um campeonato. Cada campeonato foi diferente daquele disponibilizado no dia seguinte e assim sucessivamente. Nós utilizamos aqui no Caça e Pesca um modelo norte-americano e foi um sucesso”, comemorou.

Movimento intenso

O Clube Caça e Pesca registrou intenso movimento em todos os dias de competição. As 10 pedanas permaneceram sempre concorridas com os atiradores demonstrando competitividade, o que era fácil de perceber pela intensa concentração nas expressões faciais de cada um deles. Os espectadores também se movimentavam entre as pedanas, muita gente assistiu às provas, como foi o caso da família Assis, formada pelo casal Roberta e Frederico, e os filhos Lucca e Daniel, de 20 e 18 anos, respectivamente, residentes em Uberaba. “Sempre gostei muito de atirar e tenho muito interesse pelo Trap Americano”, conta o pai. “Ele me ensinou a atirar desde quando éramos namorados e hoje sou apaixonada por esse esporte”, diz Roberta. Os dois filhos seguem pelo mesmo caminho e já providenciam a contratação de um instrutor. “Após conseguirmos nos aperfeiçoar, pretendemos entrar de vez no Trap Americano”, revela o mais velho dos garotos.

Ambiente agradável e negócios

Os diferentes estandes instalados no Caça e Pesca também estavam movimentados, em um sinal de que bons negócios podem ter sido realizados. Estiveram presentes no evento as marcas tradicionais de armamentos, maquinários, insumos, roupas e acessórios, além do tradicional café que foi oferecido gratuitamente a todos. Estava claro nos estandes a preocupação estratégica de expor as marcas ao público competidor presente em Uberlândia.

Outro fato que chamou a atenção das pessoas, foi a presença do Exército Brasileiro — Uberlândia é sede do 36.º Batalhão de Infantaria Motorizado (36.º B I Mtz), uma unidade desta força armada — que apresentou ao público — função de alguns oficiais, sempre muito atenciosos, gentis e disponíveis, é preciso registrar — alguns blindados como o BTP Guarani, um blindado anfíbio de 18 toneladas e tração 6×6, capaz de transportar 11 militares. Ele mede 6,91 m de comprimento, 2,7 m de largura e 2,34 m de altura. 

Como já é característica do tiro esportivo, sobretudo no Trap Americano, o ambiente durante as competições se manteve muito agradável o tempo todo. A garra de cada competidor para atirar bem e realizar um bom campeonato não impedia a cordialidade e a diversão fora da pedana. Famílias inteiras circulavam pelo clube, fato que indiscutivelmente alegrava o ambiente.

Crescimento a cada competição

Os competidores que estiveram em Uberlândia avaliaram não só a qualidade das competições, mas também a própria conjuntura do Trap Americano como um esporte em expansão no Brasil

O gaúcho de Nova Prata Daniel Taiarol, 37 anos, diz que o Trap “reúne uma conjunção de coisas boas, pois só me traz benefícios. O Trap Americano é praticado apenas por pessoas de boa índole”, afirma. Ele conta que começou em 2014 atirando com uma carabina de pressão e depois foi para o tiro esportivo: “o ótimo ambiente me atraiu. Hoje eu tenho amigos no Brasil todo e viajo para todos os campeonatos da Liga e da CBTE”. Taiarol argumenta “que cada dia na prova é um dia diferente. “A disputa não é com os outros atiradores, mas é você disputando com o prato. O principal na concentração é você estar bem consigo mesmo”. O gaúcho acrescenta que

O tiro esportivo cresce a cada competição e cita o Playoff de Uberlândia “como um exemplo claro dessa expansão”.

Outra presença importante no Clube Caça e Pesca foi a de Carlos Eduardo Marques, de Ponta Grossa (PR) e presidente da Confederação Paranaense. Há 40 anos no esporte, Marques aposta no crescimento do tiro, sobretudo do Trap Americano, “se houver a continuidade de uma política facilitadora da compra de armas, de munição e de demais insumos”. O dirigente e competidor prossegue dizendo que “o tiro esportivo, evidentemente, é uma atividade cara. A grande barreira que precisamos derrubar é a que envolve os preços. Só assim, não se iluda, será possível viabilizar a entrada de mais praticantes”, esclarece.

Depois de elogiar o campeonato de Uberlândia, “tudo muito bem organizado, tudo muito bonito, atirei 200 pratos em dois dias”, Marques informa que 

“realizaremos novamente o campeonato paranaense de Trap e o de Hélices”. Ele acrescenta que o Clube Caça e Pesca de Ponta Grossa, sediará, em abril, um evento internacional, “ o 5th South American  Cup da Amateur Trapshooting Association – ATA da ATA (Amateur Trapshooting Association)”.  “Vamos sediar também a final do campeonato paranaense porque a equipe de Ponta Grossa do Caça e Pesca foi a campeã estadual de 2020”.

Alto nível

O alto nível de competitividade do campeonato foi destacado por Reinaldo José da Silva, de Sinop (MT), esportista de Trap Americano desde 1996 e árbitro no Caça e Pesca. “Realmente aqui o nível foi altíssimo’, o que, segundo ele, reflete “uma evolução muito rápida do Trap no Brasil”. Todavia, Reinaldo diz que ainda se trata de um esporte muito caro” e essa realidade só será alterada “se houver uma redução drástica dos impostos”. A atual conjuntura, na opinião dele, impede maior expansão do Trap Americano.

Mais uma presença de muita relevância no Playoff Internacional de Uberlândia foi a do empresário Marcello Bonatto, importador no Brasil das armas fabricadas pela consagrada marca italiana Beretta. Pela atividade que exerce, Bonatto tem experiência e credibilidade para avaliar a expansão no país do Trap Americano “Não é apenas dizer que o governo agora incentiva o esporte, mas o que efetivamente ocorre é que há é um acréscimo muito grande com a atuação da Liga Nacional”, analisa. “A entidade veio para inovar o esporte. Por isso, há muita gente nova atirando, como prova esse evento, com praticamente 1.500 inscrições”.

O importador da Beretta vai mais longe quando afirma que “no Brasil há uma importante quebra de paradigma em relação ao tiro”. Ele justifica o seu raciocínio dizendo que acompanha o esporte há 12 anos e nota que os competidores atualmente “têm amor pelo esporte; o tiro a hélice cresce bastante enquanto  o tiro ao prato é uma modalidade em evolução  crescente em todo país justamente pela motivação dos praticantes”. “Você observa, por exemplo, muitas mulheres atirando, adolescentes atirando com autorização dos pais e também com autorização judicial”. Mais uma quebra de paradigma.

Mesmo reconhecendo a dificuldade provocada pelo “o custo de cada tiro, da arma e do prato, além carga tributária muito elevada”, Bonatto diz que o Brasil “é um mercado muito interessante, não só para a Beretta, como também para todos os fabricantes de armas”.

Um competidor especial

Aos 32 anos de idade, Eduardo Soares Dantas Valença, de Brasília, é um competidor especial, pois é cadeirante. Há cerca de um ano no Trap Americano — “primeira competição de que participei foi justamente aqui no Caça e Pesca em 2019” —, ele, que sempre gostou de atirar, salienta que o “Trap é um esporte dinâmico, diferenciado, que exige muito movimento. A cada momento é um tiro diferente, e isso me atraiu demais, muito mais do que o tiro parado”.

Eduardo conta que tenta participar o máximo possível dos campeonatos, “mas é que eu pratico outros esportes como wakeboard, Trilha UTV adaptado e esqui”.

Porém, ele diz que pretende se dedicar muito mais ao tiro “agora em 2021; vou focar mais em treinamento para poder me aprimorar”.

Como não poderia deixar de ser abordado, o brasiliense é só elogios ao ambiente do Trap: “as pessoas me recebem muito bem, fazem de tudo para que eu me sinta confortável, fazem questão de serem solícitas e eu me sinto acolhido”. O esportista lembra que não são todos os lugares que têm estrutura adequada, “mas aqui em  Uberlândia, o clube está todo acessível, os banheiros são adaptados com acessibilidade e as pedanas têm rampas”. 

Juventude em ação

Outro fato de destaque foi a presença de jovens atletas – categoria junior – competindo no Playoff Internacional. João Pedro Ferro Viana, de Goiânia (GO), de apenas 14 anos, conta que começou a praticar Trap Americano. somente há dois meses:

“é um esporte viciante e eu faço o máximo possível para me sair bem. É o primeiro torneio que venho com o meu pai, que pratica tiro há muitos anos”. O garoto quer se dedicar ainda mais ao Trap e pretende realizar clínicas com instrutores e aprender mais com o pai.

Já Nicholas Massau Hori, 16 anos, de  Monte Alto (SP) conta que começou há três anos no tiro incentivado pelo pai, entusiasta do esporte. Nicholas, inclusive, é ambicioso no que se refere ao tiro: “eu tenho muita vontade de participar de uma olimpíada, é o que me motiva. Demonstrando maturidade, o paulista fala que “a chave de tudo é adquirir experiência, e eu preciso adquiri-la com o tempo, por isso vim aqui em Uberlândia”.

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