Universidade, startup, empreendedorismo e tiro esportivo! Uma história de sucesso.

Uma jornada que explica como jovens universitários conheceram o mundo do tiro esportivo ao prato e desenvolveram um equipamento de excelência com tecnologia nacional.

Tiro esportivo e empreendendorismo. Tudo começou no ambiente universitário, em salas de aulas e laboratórios onde o conhecimento teórico é apresentado e os professores estimulam os alunos a refletirem sobre como este conhecimento pode ser transformado em produtos inovadores ou que possam diminuir a dependência tecnológica do Brasil frente às outras nações. Esta é uma das bases da inovação tecnológica associada ao empreendedorismo que existe nas universidades de todo o mundo e, no Brasil, promovem grandes transformações.

Neste artigo vamos falar da história de jovens alunos da Universidade Federal de Uberlândia – UFU que foram “infectados pelo vírus do empreendedorismo” e decidiram aceitar o desafio de transformar ideias em negócio voltado para o tiro esportivo. Quem nos conta sobre essa trajetória são os engenheiros Gabriel Antônio Martins Pereira de Melo e Alvaro Daniel Herrera Arroyo.

O Início

A história começa em 2017 quando os dois engenheiros, juntamente com outros alunos, faziam parte de uma startup incubada no Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras  (CIAEM) da UFU. Na época, o grupo não tinha nenhum contato com o tiro esportivo e a startup vinha trabalhando em diferentes projetos que visavam o desenvolvimento de um produto para o mercado agrícola. No entanto, dada a extrema competitividade do setor e a dificuldade de captação de recursos, foram obrigados ampliar o horizonte da empresa no sentido de desenvolver produtos em outros mercados que possibilitassem a viabilidade deles.

De acordo com Gabriel, “um dos então sócios e praticante de tiro esportivo, filiado ao Clube de Tiro de Uberlândia – CTU, levou aos demais sócios a proposta de desenvolver um equipamento phonopull, dada a frequência de reclamações sobre o modelo importado que ali vinha sendo utilizado. Como éramos uma equipe de engenheiros, nos propusemos então a fabricar o nosso próprio phonopull para atender a demanda do CTU.

Mal sabiam eles que o caminho não seria aquele céu de brigadeiro, como se costuma dizer no meio aeronáutico. Nas palavras de Gabriel: “julgávamos que seria uma tarefa rápida e simples de se realizar, tendo em pouco tempo um equipamento confiável, robusto e funcional em operação”.

Quer saber mais sobre como funciona um phonopull? Acesse o artigo “Phonopull – Equipamento essencial para competições de tiro ao prato” publicado no portal especializado de tiro esportivo ao voo da Revista Pedana:

https://revistapedana.com/phono-pull-equipamento-para-tiro-ao-prato/

Com o passar do tempo, os futuros engenheiros perceberam que a tarefa não seria tão simples. Naquela época, continua Gabriel, “estávamos enganados e menosprezamos a complexidade da tecnologia envolvida em um equipamento que visava atingir os padrões de funcionamento e qualidade dos equipamentos adquiridos no exterior, cujo domínio sobre a tecnologia e mercado data de mais de 30 anos”.

A ideia começa a se transformar em produto. Foto: Astra/Divulgação.
Os componentes eletrônicos vão se juntando na placa para o primeiro protótipo. Foto: Astra/Divulgação.

Assim, o que inicialmente parecia um projeto simples que rapidamente alcançaria os objetivos iniciais da startup, tornou-se mais complexo. No entanto, a equipe não desanimou e,em abril de 2018, “o projeto começou a tomar forma com o primeiro protótipo construído com uma eletrônica prematura e com a ajuda de uma impressora 3D, para que os primeiros testes fossem realizados no CTU”.

Naquele momento, continua Gabriel, “notamos que pouco ou nada  sabíamos sobre a infinidade  de variáveis que deveriam  ser consideradas, dado que nunca estiveram presentes dentro do ambiente acadêmico. Assim, passaram-se dias, semanas e meses em estudos sobre diversas áreas como eletrônica, processamento de sinais, automação e acústica. Longos períodos de observação e testes foram necessários para que uma nova versão, capaz de corrigir erros anteriores, fosse alcançada.

Desenvolvimento do produto

Neste momento, a parceria com o CTU foi muito importante, pois foram inúmeras idas ao clube para testes e mais testes, contando sempre com o incondicional apoio de atletas do tiro esportivo — principalmente de seu então diretor Maurílio Miranda — no desenvolvimento do equipamento. Durante esse período, complementa Alvaro, “cada ida ao clube de tiro apresentava novos desafios. Nesta rotina de constantes estudos, erros e acertos, pudemos melhor compreender fenômenos acústicos como o tiro, o vento, a voz humana e, ao mesmo tempo, aperfeiçoar a eletrônica envolvida para fazer o equipamento funcionar nas mais variadas condições, onde a temperatura do ambiente ou a qualidade do sinal da rede elétrica eram levadas em consideração”.

Gabriel: o projeto começou a tomar forma com o primeiro protótipo construído com uma eletrônica prematura e com a ajuda de uma impressora 3D“. Foto: Astra/Divulgação.

Um grande diferencial ao longo do período de desenvolvimento do equipamento, foi o contato sistemático com atletas do tiro esportivo, como relata Alvaro, pois as opiniões de usuários permitiram encurtar o processo em busca da qualidade. Da mesma forma, diferentes atletas do tiro esportivo, oriundos de diferentes regiões do país, que visitavam o CTU, puderam igualmente contribuir. Para a equipe de Alvaro e Gabriel, esse contato contribuiu de maneira decisiva para a continuidade do projeto frente às dificuldades, pois “percebemos que no Brasil existe grande demanda por um phonopull nacional, à altura dos equipamentos importados, a  um preço mais acessível e que oferecesse um pós-venda de qualidade”.

Para a equipe de Alvaro e Gabriel, esse contato contribuiu de maneira decisiva para a continuidade do projeto frente às dificuldades. Foto: Astra/Divulgação.

O tempo foi passando e, em agosto de 2019, o equipamento pôde ser apresentado aos atiradores durante a Regional Sudeste do Campeonato Brasileiro de Trap — promovido pela Confederação Brasileira de Tiro Esportivo – CBTE em Uberlândia —, deixando a equipe mais motivada a seguir em frente com o projeto.

No dia 22 de dezembro de 2019, a empresa finalmente alcançou e validou seu mínimo produto viável (MVP na língua inglesa), capaz de acionar a máquina lançadora de pratos  apenas com comandos de voz — e que não eram mais afetados por tiros, ventos ou outras fontes de ruído. Este equipamento foi utilizado em diversas práticas e competições internas no CTU, além de alavancar as primeiras vendas para clubes de Goiás e de Brasília, além do próprio clube de Uberlândia.

O grande desafio

O sucesso do equipamento ao longo do ano de 2020, em constante uso, provou que ele é robusto e confiável. Mas o grande desafio estava por vir.  O Clube de Tiro de Uberlândia propôs à empresa uma parceria na realização da Etapa de Play-Off de Tiro ao Prato em dezembro de 2020, organizada pela Liga Nacional de Tiro ao Prato (LNTP). Seriam necessárias 10 unidades do equipamento que precisavam ser produzidas em apenas 30 dias. Os trabalhos foram intensos ao longo deste período, necessitando de um grande esforço por parte da equipe para que os equipamentos estivessem à disposição dentro do prazo.

Dias e noites de trabalho para atender o desafio colocado pelo Clube de Tiro de Uberlândia e a Liga nacional de Tiro ao Prato. Foto: Astra/Divulgação.
O trabalho manual e criterioso para garantir a boa qualidade do produto. Foto: Astra/Divulgação.
Após um trabalho intenso, os equipamentos ficaram prontos para o Play Off da Liga Nacional de Tiro ao Prato. Foto: Astra/Divulgação.

De acordo com Alvaro, além do desafio na fabricação dos equipamentos, o evento foi fundamental para melhorar, ainda mais, a qualidade  do produto, pois “o equipamento foi submetido à chuva, lama, raios (até falta de energia em um determinado momento) e a uma “densidade” tão alta de tiros no ambiente que foi possível perceber que os equipamentos requeriam melhor calibração para uma situação que nunca antes tivemos oportunidade de enfrentar: 50 atiradores, divididos em 10 pedanas, atirando ao mesmo tempo.

Para os dois membros da startup, que estiveram presentes durante toda a competição, que madrugaram, ‘vestiram e suaram a camisa’ ao longo dos cinco dias do evento e que estiveram à frente das críticas e dos elogios relacionados ao projeto, foi um aprendizado gigantesco. Na ocasião, entendeu-se que ainda existiam pontos no projeto a melhorar (sempre há), tais como a sensibilidade da voz do usuário e o processamento de tanta informação sonora, como foi o caso dos múltiplos tiros ao mesmo tempo e vindos de várias direções.

Para o último dia do evento, o nosso esgotamento físico e mental era evidente, porém seguimos contentes e, de certa forma, orgulhosos em ver que apesar de tudo e de todos os desafios, cumprimos com o compromisso de colaborar com a realização de um evento de tal porte, sem cobrar nada em troca, simplesmente pela oportunidade de divulgação.

Graças à organização da LNTP, dos seus diretores Valdir Abel e Giovani Suriz, o representante da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) Acir Edling, e o então diretor do CTU Maurilio Miranda, pela primeira vez fomos apresentados como Alvaro e Gabriel, e reconhecidos pela comunidade do Tiro ao Prato ali presente,  como os desenvolvedores do phonopull brasileiro”.

Imagem de uma pedana com o phonopull da ASTRA durante o Play Off da Liga Nacional de Tiro ao Prato de 2020 em Uberlândia. Foto: Tribo da Foto.
Gabriel fala do desafio de atender a demanda do CTU ao lado de Valdir Abel (Presidente da LNTP) e seu sócio Alvaro, no Play Off. de Uberlândia em 2020. Foto: Tribo da Foto.

A pandemia e a criação da ASTRA – Automação e Robótica Ltda.

O tempo que foi requerido para o desenvolvimento do projeto phonopull até seu modelo finalmente habilitado para a venda, levou o projeto principal da startup agro a entrar em declínio. Isto colaborou para que a maioria dos sócios se afastasse da empresa, deixando a minoria de seus membros à frente do desenvolvimento de ambos os projetos. Com uma estrutura grande demais e com a pandemia em 2020, houve um afastamento ainda maior dos sócios originais da empresa.

Gabriel relata que “coincidentemente, durante a competição Play-Off da LNTP, fechou-se um acordo entre os sócios para que a startup fosse liquidada e a tecnologia do projeto phonopull continuasse sendo desenvolvida e explorada apenas por Alvaro e por mim. Assim nasceu a ASTRA – Automação e Robótica Ltda.

Com uma estrutura enxuta e dois sócios à frente, a ASTRA continuou trabalhando na melhoria do seu phonopull, conseguindo no primeiro trimestre de 2021 evoluir o modelo anterior para um modelo mais sensível à voz e capaz de processar e filtrar o grande volume de tiros observados durante a competição do ano passado. Os resultados são visíveis e tem atraído a atenção de diversos clientes que hoje já contam com seu próprio phonopull-ASTRA.

Por fim, Gabriel deixa sua mensagem: “a todos os nossos clientes, expressamos o nosso mais fiel agradecimento pela confiança e apoio. Saibam que é nosso compromisso garantir que estejam satisfeitos com os nossos produtos, contando com a nossa assistência quando for preciso. Nossas portas sempre estarão abertas para escutá-los e recebê-los. Nossa missão é a de levantar a bandeira do desenvolvimento de tecnologia nacional por meio dos nossos produtos e colaborar com nosso ‘grão de areia’ para o crescimento do tiro esportivo e a soberania tecnológica do Brasil”.

Alvaro e Gabriel são verdadeiros campeões por desenvolverem tecnologia brasileira e colocarem no mercado um produto de qualidade, ao um custo significativamente menor que os equipamentos importados. É o empreendendorismo e o conhecimento acadêmico ajudando o desenvolvimento do tiro esportivo brasileiro. Foto:Tribo da Foto.

Para outras informações sobre o phonopull da Astra, acesse o site da empresa:

https://www.astracorp.com.br/

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