Exemplo de determinação

O atirador Ary Rocha, instrutor do Clube Mineiro dos Caçadores, tem uma trajetória vitoriosa de quase 50 anos.

Ary Rocha, residente em Belo Horizonte, completa em dezembro próximo 50 anos de dedicação ao tiro esportivo. Detentor de um vasto currículo — que inclui competições em importantes campeonatos na Europa, incluindo copas do mundo, o instrutor do Clube Mineiro dos Caçadores – CMC, de Santa Luzia-MG —, é uma das mais importantes referências brasileiras do esporte.

Do alto da sua experiência, Ary considera que o tiro no Brasil segue em um patamar constante de evolução, mas que ainda não alcança condições de chegar no mesmo nível da Europa e dos Estados Unidos, embora esteja relativamente próximo desta realidade. “Não existe profissionalização no nosso país, pois aqui a gente luta com recursos próprios”, pontua. “No continente europeu e nos EUA, as empresas como fábricas de armas e de cartuchos, por exemplo, patrocinam os atletas”, informa.

Profissionalização

O veterano atirador mineiro explica que o  Brasil hoje “não está tão nivelado” com esses dois grandes centros mundiais pelo fato da ausência da profissionalização dos atletas, “mas caminha quase colado, um pouco atrás”, apesar“ das muito melhores condições que eles tem lá”. Ary justifica o seu raciocínio de forma didática: “os resultados superiores que eles alcançam se devem a importantes fatores: lá eles têm as condições de atleta semi-profissional e a de atleta profissional. O semi-profissional atira normalmente 5 mil pratos por mês enquanto o profissional atira em torno de 15 mil pratos por mês. Tudo isso com as fábricas, tanto da arma quanto de cartuchos, apoiando como patrocinadores.  Por sua vez, além de incentivar, as companhias oferecem salários quando o atleta não é militar. No caso do atleta americano, ele é custeado pelo exército”.

No caso brasileiro, Ary Rocha acredita que a mídia, pela falta de critérios em uma correta apuração dos fatos, acaba por exacerbar “informações equivocadas” que aumentam ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo atirador esportivo. “Os que defendem o desarmamento da população, por falta de esclarecimento, ou por posicionamento ideológico, no caso da esquerda, também são contra o tiro esportivo”, revolta-se. “A arma, para o atirador esportivo, é como uma raquete de tênis para o tenista. É evidente que atirador esportivo jamais vai usar uma arma para atirar em alguém. Principalmente na nossa modalidade tiro ao prato, ninguém anda com a arma municiada. Não se atira em outra coisa a não ser no prato”, encerra ele, de forma contundente.

Autoridade

A trajetória de Ary, de quase meio século dedicada ao esporte de tiro, foi iniciada com arma curta, de bala. “Atirei todas as modalidades de bala”, conta. “Após uns 15 anos de tiro nessa modalidade, comecei a atirar pratos, e atiro até hoje. Eu tenho 35 anos de tiro aos pratos. Na verdade, é a minha grande paixão, onde tenho tido muitas alegrias e excepcionais momentos de prazer”.

Essa descrição é mais do que suficiente para comprovar a autoridade que o instrutor do CMC tem para explicar as principais nuances do esporte. “O tiro requer, em primeiro lugar, disciplina e muita vontade, além de concentração total; o esporte exige uma condição técnica que só tivemos acesso recentemente, graças ao surgimento de bons instrutores e — é evidente — aos vídeos disponibilizados na internet. Assim, conseguimos avançar muito tecnicamente”.

600 mil tiros

No início da sua trajetória, Ary recorda que não havia a quem recorrer: “sou um autodidata”, brinca. “Nós, na minha época, evoluímos pela força bruta, pela vontade de vencer e pela determinação”, ensina. Ele prossegue a sua análise afirmando que os grandes campeonatos “nos trazem experiências muito válidas; você compete contra atiradores mais evoluídos e evolui junto.

“Hoje no CMC, o único instrutor sou eu”, informa ele. “No ano passado, estudaram comigo 30 novos associados e todos eles hoje  competem em um bom nível. O tiro exige tempo. Você não faz um campeão da noite para o dia. No tiro, você pode considerar-se um atirador maduro após 5 ou 10 anos de tempo de tiro. Antes disso, impossível”, esclarece.

Ary Rocha descreve um aspecto muito importante na carreira dele de 50 anos como atirador: “eu devo ter atirado em torno de 600 mil tiros. Nas condições que nós temos hoje no Brasil, para chegar a esses números, é preciso ter muita dedicação. Esse sempre foi o meu objetivo: me dedicar ao máximo a esporte de tiro”.

Diante de tão contundentes argumentos, é preciso reverenciar as quase cinco décadas de uma trilha pelo tiro definitivamente vitoriosa.

plugins premium WordPress