Um breve relato sobre a história do tiro ao voo

Por Luiz Eduardo Dias

Uma rápida pesquisa na internet nos leva a alguns sites e livros sobre a história do tiro ao voo. Iniciando pelo tiro ao pombo, passando pelo tiro às bolas de vidro, até chegar ao prato de argila e betume, observa-se que em cada fase o esporte sempre atraiu — e atrai — muito interesse por parte dos amantes do tiro. 

A modalidade esportiva de tiro ao voo tem sua origem no final do século 18 na Grã-Bretanha  por meio da prática de tiro ao pombo, mais precisamente no ano de 1793, de acordo com uma publicação inglesa Sporting Magazine. O primeiro clube de tiro ao pombo surgiu 19 anos depois, em 1812, no subúrbio de Londres, com o nome de “Old Hats Tavern” (Taverna dos Chapeis Velhos). O nome chapéu velho decorre do fato deles serem utilizados para prender o pombo antes de liberá-lo para o tiro (ATA, 2021). 

Com o passar dos anos, o esporte adquiriu mais adeptos, atingindo sua maior popularidade entre os anos 1850 e 1890 com o surgimento de diversos clubes de tiro (Currie, 2018). Naquela época, basicamente o tiro ao pombo era realizado de maneira em que os pombos ficavam em armadilhas (daí vem o nome trap) localizada uma certa distância e à frente do atirador; ao comando dele, um auxiliar realizava a abertura da armadilha para liberar o pássaro. 

Nos Estados Unidos, as primeiras competições informais tiveram início por meio de caçadores comerciais de pato, que vislumbraram uma maneira rápida de abaterem o maior número de patos em um dia. Com o sucesso dos eventos, surgiu o termo live bird shooting(atirando em pássaros vivos) ou seja, as competições passaram a envolver outros pássaros. No entanto, em função de pombos serem muito comuns e fáceis de serem capturados, a ave passou a ser a referência para os campeonatos de tiro. A primeira competição oficial em um clube que se tem registro ocorreu no Clube de Cincinnati, Ohio, no ano de 1831 (Kerr, 2021).

Figura 1. Foto de armadilhas (trap) utilizada para conter o pombo. A armadilha era operada por meio de uma longa corda. O atirador se posicion

Com o passar do tempo, mais precisamente no final do século XIX e  início do século XX, começaram a existir inquietações a respeito da utilização de pombos como alvos. Os questionamentos fundamentavam-se pela questão de sacrificar um animal para o prazer do ser humano e pelo fato da ave ser um alvo mais disponível que pudesse ser fabricado. Nos Estados Unidos a proibição de uso de pombos como alvos ocorreu lentamente entre os Estados a partir de 1902. Já na Inglaterra a prática foi banida em 1921. 

Mas antes desta época, já existia uma alternativa aos pombos. Bolas de vidros lançadas por pequenas catapultas, cuja invenção é atribuída a A.H. Bogardus em 1877. A catapulta lançava as bolas na forma de uma parábola a uma distância de cerca de 18 metros e o atirador se posicionava a 16,5 metros da catapulta.  As provas eram realizadas com três máquinas: uma que lançava a bola para a esquerda; uma que lançava para frente e outra para a direita do atirador, sendo que este não sabia qual catapulta iria lançar a bola. Mais informações a respeito do uso de bolas de vidro podem ser obtidas no site da ATA.

Figura 2. Bolas de vidro coloridas eram lançadas por meio de pequenas catapultas como alternativa ao tiro ao pombo. Fonte: https://www.traphof.org/artifacts/history-of-glass-target-balls

A primeira patente de alvos de argila (pratos) foi concedida em 1880 nos EUA para George Ligowsky e dois anos depois ja foi utilizado na Grã-Bretanha. Em 1888, Cogswell & Harrison criaram alvos confeccionados com cal e piche (Fur Feather & Fin, 2021). Do final do século XIX aos dias de hoje, houve verdadeira revolução em termos de tecnologia utilizada nas máquinas de lançamento de pratos, nas munições e nas armas. Surgiram indústrias, clubes, escolas de tiro e uma infinidade de acessórios oferecidos por um comércio ativo que movimenta dezenas — talvez centenas — de milhões de dólares anualmente em todo o mundo. No Brasil,  a comunidade de praticantes ainda é muito pequena se consideramos países como a Inglaterra — onde a principal associação voltada para o esporte, Clay Pigeon Shooting Association,possui mais de 24.000 membros — ou os Estados unidos, onde só a Amateur Trapshooting Association(que engloba apenas os praticantes da disciplina de American Trap) possui mais de 30.000 membros regulares.

Certamente ainda existem muitas dificuldades para o tiro ao voo se tornar mais popular no Brasil. A principal é o custo do esporte. O custo elevado decorre da ausência de concorrência na fabricação de cartuchos e os elevados impostos que recaem sobre estes — sem falar dos que incidem sobre as armas nacionais ou mesmo sobre a importações de pratos, cartuchos e armas. Apesar destas dificuldades, o esporte mostra um significativo aumento de popularidade nos últimos dez anos, fazendo que a cada ano a nossa comunidade fique maior.

Bibliografia

ATA- Amateur Trapshooting Association. Early Pigeon Rings. https://www.traphof.org/artifacts/early-pigeon-ringsAcesso em 21 de janeiro de 2021).

Kerr, A. History of Glass target. Balls. In: ATA- Amateur Trapshooting Association. (https://shootata.com Acesso em 21 de janeiro de 2021.

Currie, D. Mastering Sporting Clays. Stackpole Books, USA. 221p. 2018.

Fur Feather & Fin. A brief history of clay targets and clay pigeon shooting. https://www.furfeatherandfin.com/blog/clay-target-history-shooting-accessories/Acesso em 21 de janeiro de 2021.

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