Os CHOQUES realmente fazem diferença?

TécnicaPor Luiz Eduardo Dias

Para a prática esportiva do tiro ao prato os atletas têm à disposição uma variada gama de marcas e modelos de espingardas que permitem o uso de choques intercambiáveis. Os choques possuem a finalidade de tornar a arma mais versátil em termos de modalidades de tiro, além de melhorar a chance de acerto e, consequentemente, a performance do atleta.

O choque basicamente atua reduzindo o diâmetro da parte final do cano, afunilando o cone de espalhamento das esferas de chumbo expelidas de dentro do cartucho. Quanto maior é a constrição (menor o diâmetro), mais fechado será o cone de chumbos para uma mesma distância entre o atirador e o alvo, mantendo-se as mesmas características de cartucho — diâmetro e quantidade de esferas de chumbo, quantidade igual de pólvora, assim como bucha igual.

Técnicas básicas: a de tempo e a de modo

Basicamente, portanto, o que se procura é que exista uma adequação entre a distância em que o atleta acerta o prato e a formação de um cone de chumbos que permita uma concentração de esferas adequada para minimizar a chance de perda do alvo, ou seja, aumenta sua chance de acerto. A distância em que o atirador acerta o prato é função da técnica de tiro adotada e do tempo resposta após a chamada do prato, ou de sua visualização.

Em seu recém-lançado livro, o mestre Carlo Danna[1], explica as duas técnicas básicas de tiro ao prato: a de tempo e a de modo. De acordo com o autor, no Trap Americano, o atleta que utiliza a técnica de tempo geralmente acerta o prato entre 25 e 28 m, enquanto aquele que adota a técnica de modo, acerta o alvo a uma distância que varia de 29 a 32 m.

Diferentes modelos de placa de tiro

Possivelmente existam atletas que fogem deste padrão. Neste caso, é fundamental realizar esta medição para que se tenha a correta noção de distância de acerto ao alvo. Isto pode ser realizado — com a ajuda de uma pessoa para visualizar a posição de quebra do prato — colocando-se marcações no chão espaçadas de metro em metro e ajustando a máquina para lançar pratos em linha reta a partir do posto três (3) de tiro na pedana. Opcionalmente, a mesma operação pode ser feita ajustando-se a máquina para lançar pratos na máxima angulação à direita e posicionando-se para o tiro a partir da posição um (1).

Uma vez determinada a distância média de quebra de pratos, o próximo passo é atirar na placa de tiro para verificar como está o espalhamento de chumbos em função da desta distância e com diferentes choques.

Necessidade de “cast on” ou “cast off”

Para facilitar a avaliação da dispersão de chumbos existem diferentes modelos de placa de tiro, ou seja, a totalmente lisa ou a com circunferência externa de 76 cm e outra interna de 51 cm, que podem, ou não, ser cortadas por dois eixos que dividem as circunferências em quatro quadrantes, conforme apresentado na Figura 1.

Na prática, o que se observa é simplesmente uma placa lisa na qual passamos tinta branca antes de cada tiro para avaliar a dispersão de modo geral. Para ajustes mais finos, um papel cartonado branco, conforme a Figura, é o ideal. Lembrando que as placas também são fundamentais para avaliar a necessidade de “cast on” ou “cast off” no ajuste do alinhamento da coronha. Mas, isso é assunto para um outro artigo.

Uma boa concentração/dispersão

Obviamente que, mantendo-se a mesma distância de tiro (aquela que foi determinada como a que o atirador quebra os pratos), o espalhamento de chumbos vai variar conforme o choque. O ideal é que exista uma boa concentração/dispersão sem que existam “brancos” dentro da circunferência maior que possa caber um prato. Já quanto à dispersão vertical, uma proporção de 70% nos quadrantes superiores e 30% nos inferiores tem sido recomendada para o Trap Americano — onde o atirador atira quando o prato se encontra em ascensão. Para outras disciplinas, esta relação pode variar entre 60%/40% ou 50%/50%.

De acordo com o fabricante da arma ou do choque, existem diferentes graduações de constrição do diâmetro — gerando certa confusão no mercado e dificultando o entendimento entre os atletas. Basta acessar o site de empresas americanas e europeias para se constatar esta confusão. Tradicionalmente, existem seis graduações de choque, mas algumas empresas já adotam oito ou até nove graduações, como é o caso da Beretta.

Eficiência

Existem choques que se instalam totalmente dentro do cano da arma e há aqueles que apresentam um alongamento que fica para fora do cano, como uma extensão deste — Briley, Carlson’s e SKB, por exemplo[2]. A eficiência de um ou de outro modelo parece estar na preferência pessoal de cada atirador. Uma vantagem dos prolongamentos é a fácil visualização da dimensão interna do choque.

Para os modalidade de tiro double é muito comum os atletas utilizarem um choque mais aberto para o primeiro tiro e outro mais fechado para o segundo tiro, uma vez que o segundo prato normalmente vai ser atingindo em uma distância maior do que o primeiro. 

É importante lembrar que alguns cuidados devem ser dados aos choques, como a sua limpeza periódica; não apertá-lo demais quando de sua colocação no cano da arma; se ele travar e sua retirada for dificultada, coloque um desengripante; se por acidente  você amassar o choque, não tente desamassá-lo sem ferramentas adequadas, peça o auxílio de um bom armeiro; armazene-os adequadamente evitando que fiquem soltos no fundo de sua bolsa de tiro.

Enfim, o uso adequado de um choque pode melhorar seu escore? Existem controvérsias quanto a isso, notadamente se você consultar vários atletas. Um ponto é claro: se eles fazem diferença, esta somente será observada após você ter uma boa técnica de tiro consolidada. Dependendo da disciplina de tiro ao prato, em função da grande velocidade do prato, certamente o uso equivocado de choque poderá sim influenciar o rendimento, notadamente se você errar por muito na escolha. Por exemplo, utilizar um choque XFull no skeet parece não ser a melhor escolha. Ou utilizar um choque cylinder para o segundo tiro no trap americano double.


[1] Danna, Carlo. Tiro ao Prato. Um esporte. Uma escola. Uma terapia. 2020, 131p. (danna.c@terra.com.br).
[2] Briley: https://www.briley.com  – Carlson’s: https://www.choketube.com
  SKB: https://www.skbshotguns.com 

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