55 anos de uma jornada ininterrupta nos esportes de tiro e reconhecimento internacional durante os jogos olímpicos pelo trabalho como diretor de arbitragem da CBTE: a síntese da carreira esportiva de Eduardo Guilherme A. de Oliveira.
A importância de uma personalidade de com relevantes serviços prestados ao tiro ao voo esportivo — incluindo as conquistas como atleta e multiplicadas pelas inúmeras experiências vividas no esporte —, pode ser traduzida em uma grande conquista: o reconhecimento internacional dentro de uma Olimpíada.
O paulista de Ituverava Eduardo Guilherme A. de Oliveira com 55 anos de prática esportiva ininterrupta no tiro — “eu nunca deixei de ir em um clube; pelo menos uma vez ao mês, no mínimo, sempre marquei presença” — assumiu a diretoria de arbitragem da CBTE e foi o responsável pela formação dos árbitros para as Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016. Finalizado os jogos, Olegário Vasquez Raña então presidente da International Shooting Sport Federation (ISSF) no período de 1980 a 2018 (entidade sediada em Munique, Alemanha), afirmou em discurso que nos quase 40 anos dele na presidência da ISSF nunca tinha visto uma competição nos esportes de tiro sem o registro de nenhuma reclamação e nenhum protesto como aconteceu no tiro ao prato durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, “de tão bem que nós conseguimos atuar’, como recorda Eduardo.
Realizar um trabalho tão importante no maior evento esportivo do mundo traz a consagração definitiva de uma carreira vitoriosa. Ele conta os fatos que antecederam a chegada dele ao cargo. “O nosso presidente naquela época, Durval Balen, me liga por volta das 21 horas, dizendo o seguinte: ‘não me diga não. Preciso de você’. Eduardo percebeu imediatamente que se tratava de uma necessidade urgente e perguntou sobre o que se tratava. O presidente então disse que precisava que o experiente atirador assumisse a diretoria de arbitragem “com a incumbência de formar os árbitros para as Olimpíadas do Rio de Janeiro 2016”. Durval Balen acrescentou ainda que Eduardo teria uma reunião às 10 horas manhã do dia seguinte com a ISSF no Rio de Janeiro.
Eduardo Guilherme pediu o prazo de uma hora para avaliar o convite, além de consultar a esposa e os filhos. Como recebeu imediato e grande apoio da família, ele conta que comprou a passagem em São Paulo e às 10 horas da manhã já estava na sede do Comitê Olímpico Internacional “em reunião para planejar o trabalho”. Foram então formados 34 árbitros e 29 atuaram na Olimpíada de 2016.
Eduardo Guilherme continua em plena atividade, pois recentemente foi convidado pelo atual presidente da CBTE, Jodson G. Edington Jr., a chefiar um novo departamento da Confederação voltado para a formação de técnicos de tiro ao voo.
Atirador mais velho em atividade
“Não sou o mais de idade, porém acredito ser com 55 anos de prática ininterrupta nos esportes de tiro” o mais velho em atividade, como ele faz questão de dizer. A carreira foi iniciada em março de 1966 “quando o meu irmão mais velho me levou ao Clube Paulistano de Tiro, onde eu participei de minha primeira competição”, lembra. Por essa razão, o dirigente e atirador afirma acreditar que ele é o atirador ininterrupto mais velho em atividade. Porém ele ressalta: “é claro que eu tenho grandes amigos, homens íntegros e excepcionais atiradores, que já têm mais de 80 anos e, portanto, são veteranos como eu, porém estiveram ausentes do tiro por algum período, por qualquer motivo que seja”.
Nessas cinco décadas e meia, Eduardo conta que atirou em quase todas as modalidades: “nas caçadas, quando eram permitidas; passei pelo trap americano muito rapidamente, menos de seis meses; como eu queria uma coisa mais desafiante, fui para o Skeet, única modalidade na época em minha região”. O atirador argumenta que na região dele, município de Ituverava, “infelizmente nós não tínhamos ainda a Fossa Olímpica”. Após sagrar-se campeão paulista em 1976 no Skeet, Eduardo migrou para a Fossa Olímpica, pois a modalidade foi aberta no Uberaba Country Club, local muito próximo a Ituverava.
“Para mim, a FO, sem dúvida nenhuma, é o tiro de maior desafio”, afirma. Nesse espaço de tempo, o atirador e dirigente acrescenta que, também praticou o tiro ao pombo, “que hoje, infelizmente não se pratica mais no Brasil, apesar de ser liberado por uma lei assinada por Castelo Branco em 1964 que vigora até hoje. Atualmente, o tiro ao pombo virou hélice”, explica.
Fossa Olímpica, modalidade desafiante
Eduardo Guilherme aproveita para informar que segue a vida esportiva dele em torno da Fossa Olímpica, “para mim, indiscutivelmente a mais desafiante disciplina de tiro ao prato” – na Regional Sudeste do Campeonato Brasileiro deste ano ficou em primeiro lugar na categoria veteranos -. O compromisso com o tiro o levou a trabalhar na construção de um novo clube, próximo a Ituverava. “O clube chama-se Tático Brasil e as obras estão em andamento. Queremos fazer nas duas pedanas torneios de excelência da CBTE na Fossa e no Skeet. Haverá também espaço para a hélice”, explica.
Outro importante tema analisado pelo diretor de arbitragem é relacionado à evolução dos esportes de tiro no Brasil: “Me sinto à vontade para falar sobre a evolução do tiro. Nesses 55 anos, o que eu vi foi uma evolução crescente, imensa, na década de 1980/1990”, sentencia. Ela cita como exemplo a carreira do atleta Rodrigo Bastos, “que entrou no esporte e foi um absurdo o que ele atirou. Eu o conheci com 16 anos de idade, o considero como se fosse um filho, e falo com ele até hoje: existe a Fossa Olímpica brasileira antes e depois do Rodrigo”, salienta.
Entre as conquistas de Rodrigo Bastos, natural de Guarapuava (PR), estão as medalhas conquistadas na Cidade do México em 1988, na Copa Benito Juarez, “onde eu estava presente assim como em, em Porto Rico 1989, Campeonato das Américas” comenta Eduardo, que completa: “hoje ele é dentista em Guarapuava, um baluarte nesse esporte e está montando um clube de tiro para continuar passando seus conhecimentos para os iniciantes”.
Eduardo Guilherme aproveita o assunto para destacar “que a terra de Guarapuava traz bons fluidos. Nós temos lá cinco ótimos meninos, entre 12 a 21 anos idade, inclusive dois deles competiram no Caça e Tiro de São Paulo na Regional Sudeste deste ano. Ver esses garotos atirar é algo fenomenal, eles crescem enormemente”, diz, com entusiasmo. O mestre atirador de Ituverava acrescenta que Leonardo Lustosa, também nascido na cidade paranaense, com apenas 19 anos, ganhou o campeonato do mundo na Categoria Júnior na Europa em 2020. “Foi um resultado monstruoso”, enfatiza. Outro feito realizado por Lustosa, citado pelo veterano atirador, na Copa do mundo ISSF em maio passado: “ele errou o último prato na quinta série, mas simplesmente fez 120/125 e ficou em 7º lugar. Esse prato custou a final para o Leonardo, que estaria entre os seis finalistas. É um garoto que promete muitas alegrias para o tiro brasileiro”, decreta.
Evolução entre gerações
Eduardo vai mais longe ao citar que a evolução do esporte passa pelos garotos Hussein e Haddy*, 13 e 14 anos, respectivamente: eles fazem de 21 pratos para cima em 25 possíveis; portanto, é evolução de geração em geração. Eles elevam o nosso esporte, sem dúvida nenhuma; fazem nosso esporte mais competitivo e mais dinâmico”.
* Veja matéria sobre o jovem Hussein: https://revistapedana.com/desponta-mais-um-grande-talento-na-fossa-olimpica/(abrir em uma nova aba)
Para encerrar um depoimento tão marcante, Eduardo Guilherme A. Oliveira reafirma que seguirá dedicando-se tanto ao esporte quanto ao trabalho dele como formador de árbitros: “das Olimpíadas para cá, nós conseguimos dar aos atiradores algo grandioso: demos a eles respaldo, tranquilidade, honestidade e transparência com as atuações dos árbitros”, pontua.
“Vamos seguir em frente com a arbitragem, com o nosso trabalho. Ministramos em São Paulo mais um curso nacional, o oitavo que a gente fez. Essa turma formada continuará o que sempre propusemos: trabalhar incansavelmente para elevar o nosso esporte, sempre com mais caráter, princípios, dignidade e ética.
“E que ganhe sempre o melhor atirador, discussões se resolvem com resultados nas pedanas de tiro, finaliza.