O tradicional Clube de Caça e Tiro São Paulo – CCTSP — sediado na cidade de Santana do Parnaíba, região metropolitana da capital paulista — recebeu 68 atiradores de diversas regiões brasileiras para a disputa da Regional Sudeste Fossa Olímpica/Skeet – CBTE, realizado no sábado 22 de maio, compreendendo 75 pratos. No domingo, as provas tiveram continuidade com o Gran Prix Internacional Clube de Caça e Tiro São Paulo, com mais 50 pratos – totalizando 125 pratos – e a grande final.
Os torneios aconteceram envoltos por um ambiente alegre e descontraído, de confraternização entre os participantes e também, como não poderia deixar de ser, em clima de concentração e alto nível de competitividade.
Na sexta-feira, dia de treinos oficiais, a movimentação nas pedanas – duas de FO e uma de Skeet – foi intensa e com tempo suficiente para os atletas fazerem vários treinos. No sábado e domingo o tempo ficou nublado, com chuvas leves intermitentes e a temperatura mais baixa, porém sem tirar o ânimo dos atletas que puderam desfrutar das ótimas instalações do CCTSP.
Sob a coordenação técnica de Marcos Sérgio Benitez Gonsalez as provas ocorreram com muita tranquilidade e excelente organização. A cada dia a regulagem das máquinas de lançamento foram criteriosamente checadas a fim de garantir um excelente padrão – em concordância coma as regras da ISSF -para a trajetória dos pratos.
Resultados
A seguir a lista dos medalhistas da etapa Regional Sudeste do Campeonato Brasileiro de Tiro ao Prato Olímpico.
Fossa Olímpica
CATEGORIA | COL. | ATLETA | ORiG. | TT |
Feminino Dama | 1º | Camilla Alexandra Cosmoski | PR | 52 |
Masc. Sênior A | 1º | Lamberto Godoy Ramenzoni | SP | 70 |
2º | Felipe Antônio C. Fuzaro | SP | 68 | |
3º | Carlos Alberto Luiz da Costa | RS | 68 | |
Masc. Sênior B | 1º | Rubens Guimarães Molena | SP | 66 |
2º | Sergio de Oliveira Barbosa | MG | 66 | |
3º | Juliano Micheli | PR | 62 | |
Masc. Sênior C | 1º | João Batista F. Marcondes | SP | 69 |
2º | Assad Malek El Merhebi | SP | 60 | |
3º | Deiler Célio Jeunon | MG | 60 | |
Masc. Veterano | 1º | Eduardo Guilherme A. de Oliveira | MG | 58 |
2º | Nilo Luiz Gaspareto | PR | 51 | |
3º | Aurélio Beraldo | SP | 45 | |
Masc. Júnior | 1º | Hussein Kluber Daruich | PR | 67 |
2º | Haddy Daruich Gomes | PR | 58 |
Skeet
CATEGORIA | COL. | ATLETA | ORIG. | TT |
Feminino Dama | 1º | Danielle Maron Gedeon | RJ | 50 |
Masc. Sênior A | 1º | Rodrigo Maringoni Simões | SP | 66 |
2º | Wilson Costa David Junior | RJ | 63 | |
Masc. Sênior B | 1º | Bruno de Lima Refeira | SP | 65 |
2º | Luiz Rogério de Paiva Alves | RJ | 41 | |
Masc. Sênior C | 1º | Augusto Tadeu Guimarães | PE | 60 |
2º | José Carlos Vendruscolo Jr. | SP | 55 | |
3º | Thiago Liborio Romanelli | SP | 49 |
Gran Prix Clube de Caça e Tiro São Paulo
No domingo foram realizadas as duas séries de 25 pratos complementares do Gran Prix com 125 pratos. Após uma disputa intensa – com dois escores perfeitos 25/25 por parte dos atletas Hussein K. Daruich e José Artur Fortunato – Lamberto Ramenzoni ficou com o primeiro lugar (115/125). Para a disputa de segundo, terceiro e quarto lugares, José Artur Fortunato, Hussein Daruich e Filipe Fuzaro, todos com 114/125, participaram do Shot-Off BIB.
Vale lembrar que Hussein K. Daruich é um atleta de apenas 13 anos e vem confirmando ser possuidor de grande talento para o tiro ao voo. Que seja inspiração para mais jovens. Veja a entrevista com o jovem atleta:
https://revistapedana.com/desponta-mais-um-grande-talento-na-fossa-olimpica/
Classificação final do Gran Prix Clube de Caça e Tiro São Paulo
COL. | ATLETA | ORiG. | TT | ||||
1º | Lamberto Godoy Ramenzoni | SP | 115 | ||||
2º | José Artur Fortunato | SP | 114 | ||||
3º | Hussein Kluber Daruich | PR | 114 | ||||
4º | Filipe Fuzaro | SP | 114 | ||||
5º | Carlos A. Costa | RS | 113 | ||||
6º | Fabiano Simões | MS | 112 | ||||
Ambiente acolhedor
A qualidade do ambiente de um clube de tiro e de um torneio como o Regional Sudeste FO/SK, foi muito elogiado pelo casal Emílson Menarim e Camila Cosmoski, de Castro (PR), que estavam com o filhinho ainda bebê. “O ambiente agrega muito, você chega em um lugar onde terá toda a segurança e pode levar o filho e a sua esposa. Você sabe que vai ser recebido por pessoas educadas e cultas, diz ele, que atira desde 2009. Camila, que há dois anos está na Fossa Olímpica, acrescenta que eles fazem todas as provas do campeonato e que também participam dos treinamentos da CBTE. “É um ambiente muito agradável, cordial, onde fazemos novos amigos”, diz.
Única mulher na prova de Skeet, a carioca Danielle Gedeon também é só elogios ao que acontece no clube: “é um ambiente que eu adoro, é a melhor parte da competição; são grandes amizades, amigos queridos, um apoia o outro e a competição é muito saudável”.
Desde 2007 atirando, Danielle diz que embora tenha o apoio da CBTE e dos clubes, ela geralmente compete contra os homens, pois são poucas mulheres na modalidade.
“Acredito que é preciso maior divulgação para atrair mais mulheres para o esporte. Acho que seria interessante explorar as redes sociais e postar as filmagens das provas”, sugere.
Danielle conta que tanto o pai quanto o tio foram atiradores, que eles foram os seus grandes incentivadores e que ela agora incentiva o afilhado, de 19 anos. “A minha queixa é apenas quanto às complicações da burocracia. Exige-se uma documentação gigante, tem a exigência do CR e nem sempre é fácil. O meu afilhado, maior de idade, só pode possuir uma arma aos 25 anos, embora possa ter o CR e atirar com armas de terceiros”, reclama. Veja o artigo “O direito institucional à prática do desporto”:https://revistapedana.com/o-direito-constitucional-a-pratica-do-desporto/
Há mais de 40 anos no esporte, Wilson Costa David Júnior, de Valença (RJ), é mais um que sempre foi muito incentivado pelos pais a frequentar os clubes de tiro. Com toda autoridade desta vivência, ele dispara “no tiro esportivo, eu considero que nós somos uns heróis, pois as dificuldades são imensas, fora o valor das armas e dos insumos”. Essa realidade não abala a paixão dele pelo esporte, pois ele viaja o Brasil todo participando dos campeonatos.
Sonho olímpico
Presença importante no Caça e Tiro foi a do jovem atleta José Arthur Fortunato, paulista de Americana, convidado para disputar a Fossa Olímpica. Aos 22 anos, ele começou a atirar em competições somente no ano de 2018, mas já é um atleta de alto nível; participou do campeonato mundial em Lonato, Itália, representando o Brasil e faz parte da seleção brasileira de Fossa Olímpica. Ao analisar o esporte, Arthur diz que o Brasil tem ótimos atletas competindo, mas que falta “o diferencial de uma prova internacional onde é grande a quantidade de excelentes atletas”. Por isso, ele defende que “é primordial atrair mais jovens; hoje na Fossa Olímpica devemos ter quatro ou cinco jovens atletas, portanto é preciso incentivar o surgimento de novos valores”, salienta. O atirador paulista é objetivo no seu raciocínio: “precisamos ter políticas de incentivo à entrada de novos atletas. As partes interessadas devem se mobilizar, os clubes, as entidades e os próprios interessados. É necessário trazer gente para conhecer, formar público, pois o tiro hoje fica muito lateralizado e as pessoas têm preconceitos e não o enxergam como esporte. O tiro tem muito a oferecer à sociedade como um todo porque trata-se um esporte que ensina as melhores coisas à juventude”.
As ambições de Arthur Fortunato — que treina em Americana e em São Paulo — para o futuro próximo são claras: “busco a vaga olímpica para Paris 2024. Treino muito para alcançar esse objetivo. Sei que não será fácil, será preciso ainda mais dedicação, mas esse é o meu grande desafio”.
Mestre do esporte
Ao lado do jovem atirador Arthur, estava seu avô, Athos Pisoni, considerado uma lenda dos esportes de tiro, que completou: “os fatores mais importantes não só nos esportes de tiro, mas em todos os esportes, são a disciplina aliada ao treinamento constante, além da dedicação, principalmente no tiro ao prato”
Com a autoridade de quem começou a atirar ainda na década de 1960 — “o primeiro torneio em que eu atirei foi em um campeonato paulista de Skeet em Americana no ano 1965”—, o senhor Athos afirma que os fundamentos do tiro esportivo são os preparos físico, mental e a força psicológica.
Após iniciar-se no tiro, ele percebeu que para dar continuidade ao esporte, seria preciso viajar para estudar e pesquisar. “Fiquei muito curioso quando observava os estrangeiros atirando na Europa e nos EUA e fazendo resultados muito altos. Foi então que eu me perguntei: por que que lá eles fazem e aqui nós não fazemos”?
Foi a partir dessas observações que Athos Pisoni passou a se dedicar intensamente aos treinamentos, além, é claro, de trabalhar o físico, a mente e a condição psicológica. O veterano atirador também levou muito a sério a questão das armas: “passei a personalizar a arma”, diz. “Os meus resultados subiram exponencialmente e pude aproveitar a década de 1970, que considero como a era de ouro dos esportes de tiro”.
Nos dias de hoje, Athos argumenta que o atirador brasileiro obtém bons resultados internamente, mas que quando ele vai competir no exterior “a coisa muda de figura, o atleta não consegue chegar no nível dos melhores.” Todavia, os bons resultados da seleção brasileira no último mundial animaram o mestre do tiro: “a equipe conseguiu chegar próximo ao nível dos melhores atiradores internacionais”. “Eu acredito que esses atiradores da seleção estão fazendo um treinamento muito especializado, se preparando muito bem, principalmente fisicamente e mentalmente”, arremata.
Athos Pisoni segue agora no objetivo maior de passar todo o seu conhecimento para o jovem Arthur: “tento passar o que aprendi para o meu neto e ele está indo muito bem. Só não pode deixar de cumprir rigorosamente a cartilha, mas ele, como é um piloto de Fórmula 3, já cresceu em um ambiente de grande disputa, de muita competição. Por isso, é mais fácil para ele, penso eu. Mas o treinamento é intenso, é diário, pois só assim iremos atingir os objetivos”, descreve. “O tiro é diferente: tem que treinar e treinar. O tiro é distinto dos outros esportes. Se errar o prato, é zero, não tem recuperação”, define, sem meias palavras.
A história de Athos Pisoni também passou pela fundação do clube de tiro de Americana, local em que foram realizados realizar três copas mundiais, nos anos de 2001, 2004 e 2005, com mais de 50 países sendo representados. Mas o mestre já toca um outro grande projeto: ele constrói um novo clube, “de alto nível, para atletas de alto rendimento”. “Assim teremos a chance de treinar ainda mais”, diz, se referindo ao neto Arthur. O novo clube será sediado em Cosmópolis (SP) e terá o nome de Arena Atira – Associação Internacional de Tiro Esportivo.
Espírito esportivo
Outra presença em Santana do Parnaíba, foi a de José Ailton Patriota de Oliveira, desde 2009 no tiro e coordenador técnico da CBTE. Como atleta e dirigente, com o conhecimento adquirido ao percorrer todo o país, Ailton assinala que esporte ainda tem muito que evoluir, “mas que na realidade ele já saiu de uma certa marginalização, e está sendo mais aceito pela sociedade, graças ao trabalho da confederação e dos clubes de colocar o tiro como um esporte como são o atletismo, a natação e o tênis. O tiro é um esporte olímpico”, reforça. Segundo ele, um marco da evolução do esporte é o fato “de que temos agora um campeão mundial júnior, o Leonardo Lustosa”, afirma.
O coordenador técnico da CBTE pondera “que ainda temos a que evoluir” em uma direção considerada por ele como muito importante: “os clubes não têm um técnico”. Se você observar os outros esportes, todo clube tem um técnico. No tiro, a confederação tem o seu técnico, alguns atletas contratam técnicos, mas os clubes não dispõem desse profissional. Nós temos que evoluir nesta direção: isso vai colaborar para que tecnicamente os atletas sigam buscando melhores resultados”.
Ailton chama a atenção para a necessidade de atrair mais atletas. “Temos projetos para levar o tiro às escolas para desmitificar o esporte”, informa. “Observamos aqui no Caça e Tiro dois atletas adolescentes, que dizem que o esporte de tiro para eles é tudo. Se você ouvir os pais, eles vão dizer que o melhor lugar para os filhos estarem é nos clubes de tiro. Isso porque a criança vai aprender a respeitar as regras, terá disciplina e vai se tornar uma pessoa melhor, uma vez que no tiro trabalha-se a concentração e o respeito; esse é o espírito esportivo”, ensina, didático.
Com mais essa jornada, cobrindo um grande campeonato, a equipe da Revista Pedana volta de Santana do Parnaíba feliz pelo dever cumprido e orgulhosa por ter tido a oportunidade de entrevistar os atiradores, além de muito agradecida pela recepção tão atenciosa por parte da diretoria do CCTSP.